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União pode reduzir tributos se crise piorar

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Portal Fenacon

Jornal do Comércio / RS

Mantega admite que também pode diminuir os juros em caso de necessidade

A diminuição de tributos está entre as medidas que o governo poderá adotar caso a crise econômica mundial sofra um agravamento ainda maior. "Podemos reduzir tributos, por exemplo. Mas só se a situação piorar", disse ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ele, no entanto, destacou que o governo tem muita munição para combater as consequências da crise e que vai priorizar a adoção de medidas monetárias, como a redução de juros. "Temos muito armamento guardado, muita munição, que pode ser usada em caso de necessidade. E vamos preferir usar mais instrumentos monetários que fiscais", declarou.

Outros instrumentos que podem ser usados em caso de piora da situação econômica mundial são a redução na taxa de juros e a utilização das reservas em leilões de crédito. "Se faltar crédito para o comércio internacional podemos usar as reservas para dar esse crédito", disse ainda o ministro após se reunir com empresários em um almoço promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

O governo brasileiro, segundo o titular da Fazenda, tem atualmente mais fôlego para enfrentar os problemas gerados pela crise do que tinha em 2008. "O que vim dizer aqui para os empresários da Fiesp é que o Brasil está preparado seja para enfrentar uma crise crônica, mais leve e de crescimento mais lento dos países avançados e também para um agravamento da crise", disse. Isso se deve, segundo Mantega, às reservas cambiais maiores, à situação fiscal sólida e a "uma política monetária com muitos graus de liberdade".

Sobre a situação do câmbio, que neste momento passa pela valorização do dólar em relação ao real, o ministro disse que não existe um dólar ideal para o País e que o governo não pretende retirar, neste momento, a incidência do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Quanto à taxa de juros ideal para o País, Mantega disse que ela deveria ser semelhante a de outros países emergentes, com taxa real em torno de 2% a 3%, mas que não se pode atingir esse patamar de uma hora para outra. "É óbvio que isso não dá para ser atingido da noite para o dia. E é o Banco Central que vai decidir quando isso vai ser possível, sempre olhando para a inflação. A inflação alta é tão ruim quanto o juro alto. Não queremos nem uma coisa, nem outra."

O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, declarou que, para os industriais, é "mais saudável" que o dólar esteja cotado em R$ 1,80. "O dólar de R$ 1,50 é uma sobrevalorização do real que roubava a competitividade brasileira, barateando as importações, encarecendo as exportações e que não fazia bem para o Brasil", disse Skaf.

Durante a reunião com o ministro da Fazenda, os empresários falaram com Mantega, segundo o Skaf, sobre o custo Brasil, que impede a competitividade. O setor quer que o governo aproveite o vencimento de alguns contratos de concessão de energia, em 2015, para tentar reduzir os custos de energia. "É uma distorção totalmente injusta o Brasil, que tem 77% de sua matriz energética em hidreletricidade, que é a forma mais barata de se produzir energia, ter a terceira conta mais cara do mundo", disse o industrial. Mantega respondeu que o governo pretende continuar implementando medidas para reduzir custos de infraestrutura, de energia e tributário.

Após relatório trimestral do BC, analistas de mercado já apostam em taxa Selic de um dígito no final de 2012

Gradualmente ganha espaço entre economistas a hipótese de que o juro básico, a Selic, pode cair para o emblemático patamar de um dígito em 2012. Ainda é cedo para dizer que o mercado "deu o braço a torcer" ao Banco Central após a polêmica redução do juro, mas o Relatório Trimestral de Inflação divulgado na semana passada consolidou o entendimento de que os cortes da taxa não se restringem somente a 2011. Com essa leitura, a previsão para a Selic no fim do próximo ano caiu de 10,75% para 10,5%.

A pesquisa semanal Focus divulgada ontem pelo Banco Central mostra que o mercado reforçou o entendimento de que os cortes de juro serão mais fortes que o esperado há algumas semanas. Prevalece a aposta de que o Comitê de Política Monetária (Copom) deve reduzir o juro pelo menos mais três vezes: em outubro e novembro de 2011 e janeiro de 2012. Nas três ocasiões, o mercado espera cortes idênticos de 0,5 ponto, exatamente como em agosto.

Nos últimos dias, porém, tem ganhado espaço o entendimento de que o juro poderá cair ainda mais por dois caminhos: cortes de 0,5 ponto por um período mais longo ou reduções mais fortes em um mesmo número de reuniões. Nos dois casos, o resultado é idêntico: juro cada vez mais perto de um dígito.

O Banco Fator, por exemplo, refez as contas e crê que o Copom será ainda mais agressivo e o juro cairá dos atuais 12% para 9,5% no próximo ano. Entre os argumentos da instituição está o reconhecimento de que, gradualmente, as condições globais têm apresentado deterioração. O Fator cita como exemplo a queda dos preços das commodities, a intervenção no câmbio na Suíça, corte de juros em Israel e, no Brasil, queda das expectativas da confiança dos industriais.

Para a LCA Consultores, os cortes seguirão até março de 2012 e o juro baterá em 10%. A maioria do mercado, no entanto, mantém cenário como o do Bradesco, que estima redução do juro no próximo ano até o piso de 10,5%.

"A crise é forte e o mercado tem dificuldade em entender o que pode acontecer. Há uma parcela não desprezível que crê em cortes mais fortes do juro porque o BC estaria vendo uma crise mais intensa que o mercado", diz o professor de economia da USP Fabio Kanczuk, que acompanhou as reuniões em Washington com autoridades brasileiras e estrangeiras em meados de setembro.

A hipótese de cortes mais agressivos do juro continua mesmo com as previsões ascendentes para a inflação. Na pesquisa do BC, a previsão dos analistas para o IPCA em 2012 subiu pela quinta semana seguida e passou de 5,52% para 5,53%. A estimativa para a inflação neste ano manteve-se em 6,52%, acima do teto da meta de 6,50% para o ano. "Os números para a inflação mostram que o mercado já entendeu que esse BC está disposto a correr mais riscos", diz o professor da universidade paulista.

Economistas elevam estimativa para cotação do dólar neste ano

O mercado financeiro projeta que o dólar encerre 2011 em R$ 1,73, patamar acima do estimado na semana anterior no boletim Focus, de R$ 1,68. A projeção do câmbio médio no decorrer de 2011 passou de R$ 1,63 para R$ 1,65. Para o fim de 2012, a previsão para o câmbio passou de R$ 1,68 para R$ 1,70.

O mercado financeiro também elevou levemente a projeção para a inflação em 2012, segundo a pesquisa do Banco Central. A expectativa para a inflação oficial no ano que vem subiu de 5,52% para 5,53%, em um patamar ainda distante do centro da meta de inflação para o ano, que é de 4,5%. A meta tem margem de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Já a projeção para a inflação em 2011 seguiu em 6,52%. A previsão para o IPCA de setembro deste ano subiu de 0,49% para 0,5%.

O mercado financeiro manteve a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011, em 3,51%. Para o ano que vem, a projeção para o crescimento da economia segue em 3,7%.