Recuperação judicial cresce 297%
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Falta de crédito leva 135 empresas a suspender pagamentos no 1º bimestre, ante 34 no mesmo período de 2008
Marcelo Rehder
Asfixiadas pela falta de crédito, 135 empresas entraram com pedido de recuperação judicial no primeiro bimestre em todo o País. O número supera em 297% o registrado em janeiro e fevereiro de 2008, quando apenas 34 empresas tinham apresentado esse tipo de pedido a seus credores.
Os dados são de um levantamento divulgado ontem pela Serasa Experian. Em fevereiro, o número de pedidos teve queda de 17,5%, porque o mês teve menos dias úteis que janeiro. O levantamento também revelou crescimento de 473% na quantidade de pedidos atendidos no período. Nos dois primeiros meses de 2009 houve 86 registros, ante 15 nos mesmos meses do ano passado.
Segundo Carlos Henrique de Almeida, assessor econômico da Serasa, os pedidos de recuperação judicial apresentados nos últimos meses vieram de grandes e médias empresas que têm enfrentado dificuldades financeiras crescentes desde outubro, em razão dos efeitos da crise financeira mundial. De lá para cá, o crédito ficou escasso no mercado doméstico e no exterior, os juros subiram, os prazos de financiamento ficaram mais curtos e os bancos passaram a ser ainda mais seletivos na concessão de crédito.
“As empresas que vieram ao longo de 2007 e 2008 tomando cada vez mais empréstimos para financiar seus investimentos, tiveram de rever suas estratégias e enfrentar queda da produção e da demanda, o que teve forte impacto no fluxo de caixa”, explicou Almeida. “Além disso, a inadimplência do consumidor também afetou a rentabilidade das empresas menos capitalizadas.”
Para ele, a tendência é de um primeiro semestre ainda de dificuldades para as empresas. As estatísticas de crédito referentes a janeiro, divulgadas pelo Banco Central, mostram que o valor das operações de financiamento às empresas caiu 1,9% em relação a dezembro. Já para a pessoa física, o crédito aumentou 1,4% no período. “O mercado de crédito ainda não voltou ao normal, o que sinaliza dificuldades pela frente.”
Essa tendência é reforçada pelo movimento nos escritórios de advocacia especializados em recuperação judicial. Para o advogado Sergio Emerenciano, do escritório Emerenciano, Baggio e Associados, a demanda por esse tipo de serviço deve continuar em alta. Nos próximos dias, o escritório do qual Emerenciano é sócio deverá apresentar pedido de recuperação judicial em nome de mais um frigorífico. Com este, serão sete os frigoríficos que já fizeram esse tipo de pedido. A empresa, cujo nome não foi divulgado, tem sede no interior paulista e deve algo em torno de R$ 40 milhões. “O problema é a falta de capital de giro”, diz o advogado. “As empresas investiram pesado, com base no crédito bancário, e viram esse crédito ser cortado de uma hora para outra.”
FRASES
Carlos Henrique de Almeida
assessor da Serasa
“A inadimplência do consumidor afetou a rentabilidade das empresas menos capitalizadas”
“O mercado de crédito ainda não voltou ao normal, o que sinaliza dificuldades pela frente”