Poupança volta a valer a pena; saiba quando migrar
Publicado em:
Portal Exame
Queda da taxa Selic fez a caderneta superar boa parte dos fundos DI em retorno; tabela mostra se você deve ou não mudar de investimento
São Paulo – O Banco Central anunciou nesta quarta-feira o terceiro corte seguido na taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, que agora caiu para 11% ao ano. A decisão já era esperada pelo mercado, que, como de praxe, antecipou seu impacto sobre os preços dos ativos. Quem só investe nas horas vagas, entretanto, pode ainda não ter percebido que, com a queda dos juros, manter o dinheiro aplicado em um fundo DI tem grandes chances de ser sinônimo de prejuízo. Num cenário como o atual, é bem provável que os pequenos poupadores tenham um ganho inferior ao da poupança com esse tipo de aplicação.
A Selic de 11% em si ainda é bem superior ao rendimento da poupança (6,17% ao ano mais TR). O que tira a atratividade dos fundos DI é a incidência de Imposto de Renda e a taxa de administração cobrada pelo gestor do fundo.
Segundo um estudo do professor Rafael Paschoarelli, da FEA-USP, metade das mais de 1,8 milhão de pessoas que investem em fundos DI escolheram produtos com taxas de administração de 2% ou mais. Nesses casos, a aplicação já é menos vantajosa que a caderneta de poupança considerando períodos de aplicação curtos – em que a alíquota do Imposto de Renda é maior. Vale a pena lembrar que fundos DI e caderneta de poupança são indicados justamente para investimentos de curto prazo, uma vez que, em horizontes mais longos, outras opções costumam ser melhores para o poupador.
A análise do melhor investimento deve ser feita caso a caso. Mas para você saber se é hora de tirar o dinheiro aplicado em um fundo DI e colocá-lo na poupança, não é preciso fazer os cálculos. Basta realizar uma consulta à tabela abaixo, que foi montada pelo professor da FIA e especialistas em fundos Bolívar Godinho e mostra a taxa de administração máxima que um fundo DI pode cobrar para ser vantajoso – considerando o retorno atual da caderneta de poupança (de 0,57% ao mês) e o prazo em que você deseja manter o dinheiro aplicado.
Prazos | Selic de 11% | Selic de 10,5% | Selic de 10% | Selic de 9,5% |
---|---|---|---|---|
3 meses | 1,65% | 1,20% | 0,75% | 0,29% |
6 meses | 1,93% | 1,49% | 1,04% | 0,58% |
12 meses | 2,20% | 1,76% | 1,31% | 0,86% |
18 meses | 2,22% | 1,78% | 1,34% | 0,89% |
24 meses | 2,44% | 2,01% | 1,57% | 1,13% |
A tabela deixa claro que será cada vez mais difícil para quem investe em um fundo DI bater a caderneta de poupança se o mercado estiver certo e a Selic cair para 9,5% ao ano nos próximos meses. Mesmo bons fundos, que cobram 0,5% de taxa de administração ou menos, poderão ser batidos pela poupança nesse cenário – a não ser que o governo faça alguma alteração nas regras da caderneta (clique aqui e veja o que pode acontecer). Vale lembrar que quem possui pouco dinheiro na conta dificilmente vai ter um produto à disposição com taxa de administração inferior a 1% ao ano.
Tirar dinheiro dos fundos DI e colocar na poupança não é a única ação indicada ao investidores se os juros continuarem a cair como esperado. Os poupadores deverão, na verdade, rever todo o portfólio e buscar aplicações um pouco mais rentáveis e arriscadas se quiserem preservar a rentabilidade. “Em tese, a queda dos juros vai levar mais pessoas para a bolsa. Isso só não está acontecendo agora porque o investimento em ações parece muito arriscado neste momento para a maioria dos clientes”, diz Christiano Ehlers, superintendente do private banking do Santander.
Mesmo apenas entre aplicações de renda fixa pouco arriscadas, entretanto, é possível encontrar alternativas de retorno mais elevado que os fundos DI ou a poupança. A mais conhecida delas é o Tesouro Direto. O site do governo federal permite o investimento em títulos públicos sem taxa de administração em corretoras como Spinelli, Título, Banif e Socopa. O investidor terá de desembolsar apenas uma taxa de custódia equivalente a 0,3% do dinheiro aplicado ao ano.
Com rentabilidade interessante e custos baixos, o Tesouro Direto só não deslancha no Brasil porque a plataforma ainda é pouco amigável. Em primeiro lugar, o investidor precisa entender a dinâmica do mercado de renda fixa, que não é tão simples quanto parece. Os nomes pouco explicativos dos títulos públicos – como NTN-B Principal, LFT ou LTN – também pouco ajudam. Ter tempo para o aprendizado e disposição para abrir uma conta em um corretora, no entanto, pode valer a pena (veja aqui como investir no Tesouro Direto).
Outra opção que surgiu neste ano foi o Sofisa Direto. Pelo site, o banco Sofisa negocia CDB com um retorno mínimo de 100% do CDI para qualquer valor investido. Para que o investimento seja considerado de baixíssimo risco, no entanto, é necessário aplicar no máximo 70.000 reais nesse produto. Até esse valor, a aplicação é garantida pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito). Mesmo que o pior aconteça e o banco quebre, o investidor será integralmente ressarcido pelo prejuízo.
Private
Para clientes com muito dinheiro, as opções com retorno interessante são um pouco diferentes. Segundo Christiano Ehlers, do private banking do Santander, para quem só tolera um risco baixíssimo, as opções que mais vêm crescendo neste ano são a LCI e a LCA. Os dois papéis são emitidos e garantidos por bancos. A diferença é que um tem como lastro créditos imobiliários (LCI) e o outro é gerado a partir de empréstimos agrícolas (LCA).
Quando emitidos por bancos de primeira linha, os dois papéis costumam pagar cerca de 90% do CDI aos investidores – mas esse percentual varia de acordo com a instituição, o momento e o prazo do investimento. O risco de crédito é baixo porque é o próprio banco quem deve remunerar o poupador. A grande vantagem desses papéis, entretanto, é tributária. Não há cobrança de Imposto de Renda sobre o ganho nas aplicações. “Grosso modo, ganhar 90% do CDI com uma LCI ou LCA corresponde a encontrar uma taxa de 105% a 112% do CDI para um CDB”, diz o executivo do Santander.
A LCA também pode ser excelente opção para um investimento de curtíssimo prazo, uma vez que não há cobrança de IOF. Sobre o CDB e os fundos DI, por exemplo, há a incidência desse tributo para aplicações de até 30 dias. Já a poupança não paga nada ao cliente se o período de aplicação não chegar a um mês.
O único problema das LCI e LCA são a dificuldade em encontrá-las. A maioria dos grandes bancos só oferece o produto a clientes do private banking – ou que tem no mínimo 1 milhão de reais em aplicações financeiras. O tíquete mínimo para o investimento é outra barreira. O Santander, por exemplo, só vai vender LCI ou LCA a quem estiver disposto a investir ao menos 250.000 reais no produto.