Portas abertas para a cultura
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Cultura, esporte, saúde e lazer
Da Redação
Com o fim das obras, haverá um aumento de 42% na área construída (hoje são 346 mil metros quadrados), que permitirão ao Sesc praticamente dobrar sua capacidade de atendimento semanal à população, saltando de 300 mil pessoas para 500 mil.
A primeira das novas unidade, o Sesc São José dos Campos, foi inaugurada dia 6 de dezembro com uma série de inovações tecnológicas. As piscinas são aquecidas com o ar quente de rejeito que sai do ar-condicionado, há o reaproveitamento das águas pluviais para, por exemplo, o abastecimento das válvulas de descarga dos sanitários e vestiários e o aquecimento dos chuveiros é, em parte, feito por energia solar. Os móveis são de madeira certificada e o material dos pisos é de fácil limpeza.
"Sustentabilidade é uma palavra muito usada, mas pouco utilizada", diz Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo. "O Sesc São José incluiu responsabilidade ecológica, com o uso racional dos materiais", afirma ele.
Pelo cronograma das obras, em 2009 será entregue a sede provisória do Sesc Osasco. Em 2010, o fim da reforma do Sesc Belenzinho transformará a unidade na maior do estado, com 36.700 metros quadrados. O ano marca também o nascimento do Sesc Bom Retiro. Até 2014, será a vez das unidades Jundiaí, Sorocaba, Birigüi e Guarulhos e das sedes definitivas dos Sescs Osasco, 24 de Maio, Santo Amaro e Avenida Paulista.
Serão centenas de novas poltronas somadas as já 7.977 distribuídas por dezenas de teatros, auditórios e cinemas espalhados pelas 31 unidades do Estado. Em 2007, o Sesc proporcionou nada menos do que 5.333 espetáculos de artes cênicas, 4.866 oficinas artísticas e 4.152 shows musicais a preços de raramente ultrapassaram R$ 20.
"Há uma comissão que interage permanentemente com a área criativa e que escolhe a programação que melhor atende anossos objetivos", conta Miranda. "Procuramos atividades que levem à reflexão, que tenham coragem de colocar o dedo em questões fundamentais da cidadania e que incitem o público a entender melhor o seu entorno. Não é uma pregação de ordem política ou religiosa, é a valorização do humano." Além dos espetáculos escolhidos por esta comissão, todos os meses, uma quantidade gigantesca de projetos aterrissa no Sesc com propostas de pessoas interessadas em mostrar seu trabalho. Tudo é analisado cuidadosamente. O baixo preço dos espetáculos é possível uma vez que tudo no Sesc é subsidiado. São R$ 400 milhões anuais provenientes da contribuição provisória que vem das empresas (1,5% da folha de pagamento dos comerciários). Desse montante, R$ 100 milhões estão sendo aplicados em investimentos, como a construção das novas unidades. "Pelos nossos estudos, vamos continuar aplicando esse valor, mesmo com a crise econômica mundial", afirma Miranda. "A economia brasileira será afetada e não será apenas uma ‘marolinha’. Entretanto, acreditamos na economia brasileira e na sociedade. O Brasil continuará a crescer", completa otimista, sem renunciar ao bom senso.
Miranda parece estar sempre sorrindo por trás de suas barbas de Papai Noel. Embora tenha nascido em Campos, no Rio de Janeiro, e seja torcedor fervoroso do Fluminense, é paulista de coração e alma. O título de cidadão paulistano é ostentado com orgulho. Depois de 24 dos seus 65 anos passados à frente da diretoria regional do Sesc, é ele o responsável pela cara que a instituição tem hoje.
"Danilo Santos de Miranda é o verdadeiro ministro da Cultura do Brasil", escreveu em seu blog o diretor de teatro Gerald Thomas. "Esse ser maravilhoso faz mais pelo teatro do que todos os ministérios colocados juntos. O que eu e todos os diretores, autores de teatro do Brasil (e de algumas partes do mundo também), coreógrafos, instaladores, multimídias, até cineastas contamos com a sua ajuda é incalculável!"
Convidado duas vezes pelo governador José Serra para encabeçar a Secretaria de Cultura do Estado, amigos atribuem a recusa ao fato de Miranda achar que não conseguiria liberdade suficiente para realizar o trabalho sonhado. Não há quem discorde de que teria um excelente desempenho.
A nova fisionomia do Sesc está, por exemplo, na concepção do que é melhor para o bem-estar do trabalhador. Se antes eram feitos concursos de misses (ver reportagem na página 2), hoje são espetáculos de artistas como Peter Brook, Antunes Filho, Cordel do Fogo Encantado e Ney Matogrosso que roubam a cena. Apesar da programação artística aparecer mais, o Sesc oferece serviços de creche, educação infantil, medicina preventiva, odontologia, nutrição, artesanato, esporte, turismo social e informática, entre outras áreas também.
"O forte do Sesc é a cultura, mas no sentido que nós damos a ela", diz Miranda. "Nesta visão, a cultura não é só o imaginário, a arte – que talvez seja sua forma mais sofisticada -, mas também a educação informal, o contato com o outro, com o meio ambiente, com o urbano. Os órgãos públicos entendem a cultura apenas como o universo das artes. Nós, como um elemento fundamental para o bem-estar social. Procuramos tornar a vida das pessoas melhor e a cultura é a nossa ferramenta para atingir esse objetivo."
Outra mudança fundamental está na gratuidade. "O Sesc partiu de uma perspectiva assistencialista, de filantropia e caridade", lembra Miranda. "Uma visão, no meu ponto de vista, desrespeitosa com o ser humano. Com o tempo houve um reconhecimento da igualdade, de que você não estava proporcionando bem-estar para alguém que está abaixo na escala social. Trazemos qualidade para quem, normalmente, não teria acesso a essa programação, ao mesmo tempo que abrimos espaço para artistas pouco conhecidos e que provavelmente não conseguiriam mostrar seus trabalhos com tanta facilidade. Nas duas situações é um acesso ao novo." É o caso de bandas como Funk Como Le Gusta, Mundo Livre S/A e Pedro Luiz e a Parede. Se há alguns anos esses grupos eram pouco cohecidos na capital paulista, por meio do Sesc hoje têm seus shows lotados com semanas de antecedência.
Diversidade ameaçada
Essa qualidade e diversidade se viram ameaçadas no começo do ano, quando o governo federal ensaiou interferir na forma como o Sesc, o Sesi, o Senai e outras instituições que compõem o – "impropriamente chamado", observa Miranda – Sistema S.
Atualmente, 2,5% do que as empresas recolhem sobre a folha de pagamento é destinado ao sistema (1,5% para os serviços sociais e 1% para os serviços de aprendizagem). A proposta do ministro da Educação, Fernando Haddad, queria inverter essas porcentagens, além de criar um Fundo Nacional de Formação Técnica e Profissional (Funtep) para distribuir os recursos – hoje, eles são repassados diretamente para as entidades do Sistema S, que movimentam anualmente cerca de R$ 8 bilhões.
"O Ministério da Educação se baseou em dois equívocos", explica Miranda. "O primeiro foi imaginar que o Sesc se mantém com recursos públicos. Apesar de ter desconto na contribuição provisória, juridicamente ele não é considerado um órgão público. O segundo, foi concluir que, por causa do Senai e do Senac, por exemplo, todos os ‘esses’ do sistema eram voltados para a educação profissional." Por isso Miranda faz questão de enfatizar o "impropriamente chamado": "É um reducionismo que pretende facilitar a compreensão, mas que acaba prejudicando. Essas entidades não têm nenhuma ligação entre si".
Como a interferência ficou apenas no plano das idéias, os freqüentadores do Sesc podem separar um espaço na agenda. A programação de janeiro abre o ano com pérolas que vão de Nelson Sargento e Luiz Melodia, no Sesc Vila Mariana, até a volta dos espetáculos "Rainha (s) – Duas Atrizes em Busca de Um Coração" e "Inventário", no Avenida Paulista, passando pelos shows de Arnaldo Antunes e Edgar Scandura no Sesc Pompéia.