Pessoense é o mais sedentário do País, diz pesquisa do MS
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Além de ser considerada uma das capitais mais tranqüilas do país e uma das cidades mais verdes, João Pessoa também ostenta outro título, não tão honroso: o de primeiro lugar no Brasil no ranking de inatividade física, segundo pesquisa do Ministério da Saúde (MS), publicada em 2004.
O mais recente Inquérito Domiciliar sobre Comportamentos de Risco e Morbidade Referida de Doenças e Agravos não Transmissíveis, realizado em 2002 e 2003 em 15 capitais e no Distrito Federal, aponta um dado preocupante: 54,5% dos pessoenses – entre 15 e 69 anos – são insuficientemente ativos.
A cidade se destaca ainda por apresentar os maiores percentuais de indivíduos insuficientemente ativos em qualquer faixa etária (acima de 50%), seja de 15 e 24 anos, 25 a 49 anos ou 50 a 69 anos.
O baixo nível de atividade física do pessoense é confirmado por pesquisas mais específicas, realizadas pelo Departamento de Educação Física da UFPB, entre 2005 e 2006, com crianças, adolescentes e adultos.
Os estudos mostram que o problema começa ainda na infância. Na faixa etária de 9 a 12 anos, entre crianças de escolas da rede municipal, 49,6% são insuficientemente ativas, e apesar de 92% afirmarem que gostam de atividades físicas, 97% gastam tempo livre vendo televisão. Entre adolescentes de 15 a 18 anos, de escolas da rede estadual, 68% são insuficientemente ativos.
A chefe da Seção de Doenças e Agravos Não-Transmissíveis da Vigilância
Epidemiológica do Município, Anne Jaquelyne Barreto, explica que um dos fatores de risco mais importantes para as doenças crônicas não transmissíveis é o sedentarismo, analisado no inquérito, que é realizado a cada cinco anos pelo Ministério.
A pesquisa, segundo ela, continua válida, e por conter uma amostra significativa, reflete a realidade de João Pessoa. “Somos uma população inativa. Apesar de haver diariamente pessoas caminhando na praia, este número é insignificante, porque são pessoas residentes na orla. E a população dos outros bairros?”, ressaltou.
Problema cultural – A pesquisa do MS não identifica as causas da inatividade, mas, para a professora de Educação Física da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Maria do Socorro Cirilo, um dos fatores que determinam esta realidade, que segundo ela afeta todo o Nordeste, é cultural. “Em João Pessoa, as pessoas não têm ainda consciência de que um estilo de vida ativo faz parte de uma vida saudável. As atividades físicas não são priorizadas”, disse.
O cardiologista Fábio Almeida de Medeiros, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (Regional Paraíba), discorda do resultado do inquérito. “João Pessoa é uma cidade que se mexe. É lógico que temos que estimular mais, mas há muita gente caminhando na praia, próximo ao Espaço Cultural, ou ao estádio O Almeidão, por exemplo, lugares onde a Secretaria de Segurança realiza atividades como alongamento e verificação de pressão arterial, com o apoio da Polícia Militar”.
Na opinião do médico, a população está mais preocupada com a atividade física, devido principalmente à divulgação freqüente na mídia dos fatores de risco e dos benefícios de se exercitar.
Pouca caminhada – Segundo a professora da UFPB, de 300 a 400 pessoas por hora caminham na orla da Capital, de acordo com pesquisa do Departamento, mas o número ainda é muito pequeno. Ela afirma que a cidade não dispõe de nenhum programa público de atividade física, apenas projetos isolados, sem controle maior, como o da Secretaria de Segurança e Defesa Social.
A educadora física esclarece que há uma diferença entre atividade física e exercício orientado. “Fazer tarefas domésticas, por exemplo, é uma atividade física, que é qualquer movimento em que se gaste energia. João Pessoa está num ranking de cidade em que as pessoas que não têm programa e exercício orientado e regular. Ter uma vida ativa é o mínimo que se deve ter”.
O cardiologista Fábio Almeida explica que o termo sedentário é utilizado para classificar o indivíduo que não faz atividade física regular, como caminhada, hidroginástica ou natação, pelo menos três vezes por semana, durante 30 minutos.
Assim, para os atletas de final de semana, o médico alerta que não só eles são considerados insuficientemente ativos como podem estar correndo riscos.
“Às vezes, a pessoa pode ter algum problema de saúde e não saber, e numa ‘pelada’, por exemplo, pode ter um infarto”, destacou.
Por isso, é preciso fazer uma avaliação clínica prévia, antes de começar uma atividade. A caminhada, no entanto, dispensa avaliação, segundo ele, e é indicada para qualquer pessoa, principalmente na faixa etária acima de 40 anos.
Programa Vida Saudável – Para estimular a prática de atividades físicas na Capital, e orientar a população sobre sua importância na prevenção de doenças, e a fim de reduzir a incidência de doenças não-transmissíveis, a Secretaria Municipal de Saúde criou, no ano passado, o Programa Vida Saudável, que vai consistir em ações preventivas e educativas.
Segundo Anne Jaquelyne Barreto, o programa terá como principal eixo de intervenção a Academia Cidadã, que vai oferecer atividades físicas, diariamente e gratuitamente, em seis praças revitalizadas da cidade, priorizando bairros onde não há espaço para a prática de exercícios.
As aulas de alongamento e ginástica localizada terão acompanhamento de educadores físicos – professores e estagiários da UFPB e do Centro Universitário de João Pessoa (Unipê). Qualquer pessoa pode participar, principalmente adultos e idosos e pessoas com doença crônico-degenerativa.
A principal proposta da Academia é aumentar o nível de atividade de cada pessoa, para que os sedentários passem a ser um pouco ativos, os pouco ativos se tornem regularmente ativos, os ativos passem a ser muito ativos, e estes mantenham o nível de atividade física. A previsão é de que o projeto seja implantado a partir do próximo mês.
Praças onde serão implantadas as seis academias itinerantes:
– Praça de Coqueiral, em Mangabeira;
– Praça dos Funcionários II;
– Praça Antônio Canto, no Alto do Céu;
– Praça Bela Vista, em Jaguaribe;
– Praça da Paz, nos Bancários;
– Praça (a definir), em Cruz das Armas.
Como funcionará a Academia Cidadã:
– as atividades serão oferecidas gratuitamente para quem quiser participar;
– as aulas serão monitoradas por professores de ginástica e avaliadores físicos;
– o horário será de 5h30 às 8h30, de segunda a sexta, sempre nos mesmos locais;
– cada aula terá uma hora de duração e cada turma terá, em média, 40 participantes.
Milena Dantas, do CORREIO da Paraíba