Para abrir negócio, mulheres enfrentam mais dificuldades
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Tribuna do Norte
Embora pessoas acima de 46 anos tenham mais chances de aprovação na tomada de crédito, segundo pesquisa do Sebrae em parceria com a FGV, as mulheres enfrentam mais dificuldades que os homens na hora de abrir um negócio por conta da falta de acesso ao crédito, como critica Bete Marin. “A gente precisava se livrar de estereótipos, e focar no mercado”, disse.
Foi justamente o preconceito com idade que impediu Gisele Correia, 56, de conseguir uma oportunidade de emprego aos 40 anos. Na época, ela atuava na área de advocacia. Desempregada, a saída foi montar um brechó na garagem de casa para conseguir pagar o aluguel. “Comecei a empreender por necessidade.”
A empreitada só teve fim porque Gisele precisou se mudar de Curitiba para São Paulo. Na capital paulista, conseguiu um bico como representante de vendas e rodava os quatro cantos da cidade comercializando roupas de ginástica. “Me descobri apaixonada pelo varejo”, conta.
A grande oportunidade surgiu em 2006, quando a empresária se interessou por uma lojinha, ao lado da academia em que malhava. O estabelecimento foi colocado à venda após o dono declarar falência, enquanto migrava para o e-commerce. O proprietário era Marcio Kumruian, atual CEO da Netshoes. “Mas não era uma, eram três lojas. Quando eu fui conversar, ele disse: ‘Ou é três ou é nada’”. Ela topou. Com empréstimo no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) conseguiu inaugurar a Use Best Fit.
Quatorze anos depois, a empresária já somava 14 lojas físicas. O negócio estava consolidado, até que em 2020 chegou um baque: a pandemia da covid-19. Durante esse período, metade dos trabalhadores brasileiros com mais de 50 anos perderam o emprego, segundo levantamento da PwC Brasil. “A gente pensava que não ia sobreviver”, desabafa Gisele. A empreendedora precisou se reinventar. Foram seis lojas físicas fechadas e um novo recomeço. A loja migrou para o digital e as vendas online foram ampliadas com Martketplace.
Capacitação pode evitar a morte de empresas
Em resposta à demanda, organizações têm buscado incentivar profissionais que não sentem confiança em iniciar um empreendimento a aprimorar habilidades. Segundo a pesquisa “Empreendedores 50+, o futuro do Brasil”, a morte precoce de empresas no Brasil pode ser evitada a partir da capacitação e do preparo. O estudo aponta que os empreendedores mais velhos, por sua vez, têm mais dificuldade em se adaptar às novas tecnologias
Mas, para retardar esses pontos negativos, cursos e treinamentos a curto prazo podem potencializar as características profissionais desse grupo, sugere a pesquisa. Veronique Forat, 65, queria uma mudança na carreira após décadas no setor de marketing e se aposentar não era uma opção, mas precisou encarar o meio digital e até aprender a editar sites. Em 2017, junto com a amiga, Marta Monteiro, 68, ela abriu um negócio de moradia compartilhada “sem capital, sem entender nada de tecnologia, apenas com a coragem e ousadia”, relembra Veronique.
A ideia era criar uma espécie de Tinder, com “match-making” para conhecer as pessoas com quem gostaria de morar, não completos desconhecidos. Mas o diferencial estava no volume de informações que o usuário poderia encontrar: sexo, orientação sexual, fumante ou não, vegetariano, pets (com descrição completa dos animais).
Assim nasceu a plataforma Coliiv. “Não deveria ser só uma coisa para a garotada que vai morar em república. Morar junto é ter uma boa companhia”, descreve Veronique, acrescentando que a startup já conta com 16 mil usuários, entre 18 e 85 anos, concentrados nas regiões Sul e Sudeste. Atualmente, com dois novos sócios, a Coliiv deve expandir o menu de informações incluindo recorte por religião e tendência política. “Com a experiência que temos, a nossa percepção é muito boa. Até descobri que velho não necessariamente gosta de morar com velho”.