Microcrédito tem prejuízo e inadimplência
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Peça fundamental na estratégia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de marcar o seu governo com o diferencial da inclusão social, o Banco Popular do Brasil -voltado para conceder empréstimos às pessoas de baixa renda que nunca tiveram uma conta bancária- vai ter que encolher para sobreviver.
Dois anos depois de ter sido criado e com um ano e meio de funcionamento efetivo, a instituição acumula números desanimadores. Os prejuízos somam R$ 47,6 milhões, pelo menos 24% dos créditos concedidos não estão sendo pagos, a instituição já consumiu mais da metade do seu patrimônio inicial de R$ 116,6 milhões e a previsão de fechar no vermelho nos dois primeiros anos de funcionamento já está sendo estendida para mais um ano.
A continuar nesse ritmo, o governo seria obrigado a injetar capital na instituição para ela continuar funcionando. Por isso, o Banco do Brasil, que é quem arcaria com os rombos, preparou uma reestruturação completa de sua subsidiária popular.
O primeiro passo, dado na semana passada, é o corte de pessoal. Foram extintas uma das três diretorias e todas as seis gerências executivas. Desde a última segunda-feira, o comando do banco está resumido a uma presidência e duas diretorias. A reestruturação, confirmada pelo vice-presidente de Varejo e Distribuição, Antônio Francisco de Lima Neto, permitirá uma redução de custo de 20%.
Defensor do “conceito de microfinanças”, ele diz que, apesar dos ajustes necessários, o Banco Popular tem papel relevante no mercado de crédito. “É preciso adaptar o modelo, e não acabar com a instituição”, afirma, destacando que o banco contabiliza empréstimos de R$ 147 milhões para uma parcela da população que nunca havia sido atendida pelo sistema bancário. O microcrédito é uma das bandeiras da gestão Lula, que várias vezes exaltou que o modelo quebraria o que chamou de preconceito contra classes baixas, o de que seriam mais propensas à inadimplência.
Para alguns integrantes, o ajuste foi pequeno. Está em discussão um corte mais drástico na estrutura do banco. Uma das propostas prevê a sua incorporação pelo Banco do Brasil. A equipe atual da instituição se transformaria numa espécie de “fábrica de produtos” para baixa renda, dentro da estrutura do BB.
Também é discutida a mudança de foco do banco, que, na avaliação de membros do governo, foi o único programa que “testou no limite o conceito de microfinanças”. Isso porque priorizou pessoas do setor informal que estavam de fora do sistema bancário. No entanto, se continuar trabalhando somente com esse público, “a conta não vai fechar”.
O Banco Popular deverá atender também pessoas do setor formal e investirá em produtos para os 700 mil clientes que pagam seus empréstimos regularmente.
“Hoje, microfinanças está na pauta de todo o sistema financeiro”, argumenta Lima Neto. Ele chama atenção para o fato de o Banco Popular ter constituído uma base de clientes que não pode ser jogada fora. No entanto, algo preciso ser feito porque os números ruins acabam pesando mais do que os positivos, como a abertura de mais de 1,6 milhão de contas, a emissão de 1.581 cartões e os 5.152 pontos de atendimento.
Outra possibilidade é aproximar mais o Banco Popular do BB, dando a seus clientes acesso aos caixas eletrônicos da instituição. “Passamos mais de um ano para aprender como esse cliente se comporta, agora, temos que atendê-lo ao menor custo possível.”