Paulo de Tarso Lyra, Arnaldo Galvão, Cláudia Facchini e Ivo Ribeiro , de Brasília e São Paulo
O governo assegurou ontem a um grupo de empresários dos principais setores da economia brasileira que tudo fará para manter a demanda aquecida e o nível de investimentos em alta, como uma maneira de evitar as demissões e o desemprego no país. Durante reunião de mais de quatro horas no Palácio do Planalto, eles reclamaram dos custos do crédito e ouviram do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles que, se houver condições, a taxa Selic poderá ser reduzida. "Ele nos disse que é preciso haver equilíbrio. Mas assegurou que está pronto para baixar os juros quando for necessário e houver condições para isso", disse o presidente da CSN, Benjamim Steinbruch. Os empresários ouviram do governo um apelo para que não façam demissões.
Ruy Baron/Valor
Reunião no Palácio do Planalto entre governo e grupo de empresários: objetivo das medidas anunciadas posteriormente é manter o nível de investimentos e a demanda aquecida para evitar mais demissões e o aumento do desemprego
Os empresários saíram da reunião com o discurso afinado, elogiando a disposição do governo para conversar. Eles apontaram alguns caminhos que precisam ser seguidos, como um estímulo maior para as montadoras -setor que emprega muito e é um dos mais afetados pela crise -, crédito para o consumo e manutenção dos investimentos públicos.
De acordo com os empresários, o clima da reunião foi ameno, mas a preocupação – do governo e dos executivos – com a crise ficou evidente. Um dos presentes descreveu o clima como "triste" em alguns momentos. Na visão deste empresário, "agora está claro que Lula entendeu que não se trata de uma marolinha", como chegou a dizer o presidente no início da crise financeira internacional.
Lula avisou aos empresários que o foco de atuação do governo será manter os investimentos, e combater o desemprego e a falta de crédito. "Teremos um primeiro trimestre de 2009 ainda muito difícil, mas as medidas que estaremos tomando para aquecer a economia darão ao país melhores condições para enfrentar esse período", disse Lula. Para Steinbruch, é preciso que todos trabalhem juntos, porque a crise internacional já é uma realidade no país. "É uma crise forte, muito intensa, que começou fora mas chegou ao Brasil", disse.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, disse que o setor automotivo vive uma retração de vendas decorrente do crédito, tanto para carros novos quanto para os usados. O cenário tende a melhorar na medida que os recursos disponibilizados pelo governo começarem a chegar no varejo. "A situação começou a melhorar no final de novembro", declarou Schneider. "Apesar da queda das vendas no último trimestre, 2008 foi o melhor ano da indústria automotiva. Teremos recorde de vendas no mercado interno", anunciou Schneider.
O presidente da TAM, David Barioni Neto, declarou que a empresa não pretende recuar de seus planos de investir US$ 6,9 bilhões até 2018. "Analisamos a situação da economia e precisamos continuar investindo, movimentando a economia cada vez mais", defendeu.
O presidente da Gol, Constantino de Oliveira Júnior, acha que o Brasil tem condições de superar essa crise e ficar em situação melhor com relação aos outros mercados. "O presidente Lula disse que sua equipe está de plantão para tomar as medidas de maneira rápida. Essa sensibilidade nos dá conforto", avaliou. Apesar da crise, ele disse que o setor está com a demanda dentro das expectativas, pelo fato de o país estar na alta temporada e a companhia manter a estratégia de oferecer passagens mais baratas que a concorrência, mesmo com o aumento das companhias aéreas em operação no país. Mas aposta em desaceleração na demanda doméstica em 2009 – a alta de 8,4% deste ano cederia para 6%.
Para o principal executivo do grupo siderúrgico Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter, o encontro foi um dos mais proveitosos que já participou. Ele também destacou a disposição do presidente de não cortar investimentos como uma maneira de manter a economia aquecida. "Se tiver de tomar uma decisão de corte, ele cortará gastos, mas não investimento". Para o empresário, essa decisão é importante para que a economia avance, pois dará condições de gerenciar o processo produtivo para abastecer a demanda interna.
O grupo Gerdau, segundo seu principal executivo, vai manter o planejamento de investimentos para os próximos anos. "São programas de mais de US$ 3 bilhões que vão continuar andando". Em relação aos juros, ele elogiou a flexibilidade de Meirelles para se encontrar uma solução para o problema. "Evidente que a taxa de juros é um fator importantíssimo, mas o Brasil vivia uma situação de demanda maior que oferta. Agora, a situação se inverteu", explicou.
A reunião dos empresários com o presidente Lula, de mais de quatro horas, foi árdua. A maioria dos presentes fez uma exposição e apresentou propostas ao presidente, que ouviu, fez perguntas e anotou vários assuntos que foram discutidos.
Hector Nuñez, presidente do Wal-Mart no Brasil, o único representante de uma varejista que participou do encontro, afirmou que a reunião foi "muito positiva" e que saiu aliviado do encontro. "O presidente prometeu que as medidas (anticrise) serão tomadas até o fim do ano", afirmou o empresário, que expôs um quadro favorável, com expectativas otimistas de vendas para o Natal.
O executivo apresentou dados da firma de consultoria Gouvêa de Souza que mostram que 50% dos brasileiros ainda estão confiantes. Entre os assuntos que mais o preocupam atualmente, Nuñez apontou a jornada de emprego e abertura do comércio aos domingos – assuntos anotados por Lula – e a necessidade de que seja garantido o acesso ao crédito, tanto para os consumidores quanto para as pequenas e médias empresas.
O consenso entre as lideranças empresariais no encontro com o presidente Lula é que é fundamental estimular o consumo no país com medidas de facilidade ao crédito. "Neste momento, quando as exportações estão travadas por conta da crise mundial, o mercado doméstico é o pilar de sustentabilidade das atividades das empresas", disse Flávio Roberto Silva de Azevedo, presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia-IBS e da fabricante de tubos Vallourec-Mannesman.