Lula chama pacote de Obama de “protecionista”
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou de "protecionista" o plano de recuperação econômica apresentado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Em entrevista exclusiva à BBC na terça-feira, no Rio, Lula sugeriu que o plano fere as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).
"Eu temo o protecionismo e ele está acontecendo", afirmou o presidente ao correspondente da BBC Gary Duffy. "Quando o presidente Obama anuncia um pacote de investimentos e diz que vai financiar as obras que forem construídas com produtos comprados na siderurgia americana, ele está praticando um protecionismo que a OMC teoricamente não aceita."
O plano apresentado por Obama ao Congresso americano estipula que apenas ferro, aço e manufaturados produzidos nos Estados Unidos poderiam ser usados em projetos de construção contemplados pelo pacote de ajuda financeira, em uma cláusula que está sendo chamada de "Buy American" ("compre produtos americanos", em tradução livre).
"Durante os bons anos de crescimento dos países ricos, eles criaram a globalização, falaram muito de livre comércio, de mercado. Agora que eles criaram uma crise, não podem praticar o protecionismo que tanto atrasou o mundo em outros momentos."
Retração
O presidente admitiu que o Brasil pode sofrer uma retração, mas disse que o país é o mais preparado para enfrentar a atual crise global.
"Poderemos não crescer a 6%, mas poderemos crescer a 4% ou a 3%. O importante é que a gente continue crescendo", disse.
Na semana passada, o Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou que estava revisando para baixo a previsão de crescimento para o Brasil em 2009 – de 3% para 1,8%.
Lula, no entanto, afirmou acreditar que o Brasil "vai superar a crise sem sofrer aqui que os países ricos estão sofrendo".
"Temos um potencial de mercado interno que os países ricos já tiveram 30, 40 anos atrás, mas não têm mais. Nós precisamos fazer muitas obras públicas que os países desenvolvidos já fizeram há 30, 40 anos. E temos uma exportação muito diversificada, não dependemos de um bloco, de um país", afirmou.
"Nós estamos trabalhando para melhorar o crédito, para reduzir o spread bancário e para criar um mercado de consumo de massa. Ou seja, o povo brasileiro ainda tem muito o que consumir e ainda temos muito o que construir. Os países ricos já estão em recessão e o Brasil pode ter uma retração", concluiu.
Lula revelou que pretende falar sobre a crise com o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, e com Obama, em encontros separados previstos para março.
"É difícil imaginar que um presidente possa dar conselho a outro presidente. Mas se eu pudesse dar um conselho a eles, eu diria: Pelo amor de Deus, recuperem logo suas economias para não prejudicar os países mais pobres."
O presidente afirmou que não está preocupado "apenas com o Brasil". "Estou preocupado com os países africanos, os países da América Latina e do Caribe, que são dependentes dessas economias mais ricas e portanto sofrerão mais o peso da crise."