O Brasil registrou um aumento de 84,3% no Investimento Estrangeiro Direto (IED) em 2007 ante 2006, segundo a última Sinopse Internacional do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes) divulgada quinta-feira, com base em estimativas preliminares da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). O fluxo total de recursos que entraram no País no ano passado foi de US$ 35 bilhões, o que representa 2% do total do IED mundial. A participação brasileira no IED no ano passado foi menor do que a China (4%) e Hong Kong (4%) e similar à de Cingapura e México.
No geral, os países em desenvolvimento registraram um aumento de 15,7% no IED em 2007 em relação ao ano anterior, segundo o Bndes.
No caso dos países desenvolvidos, o aumento no período foi de 16,8%. De acordo com o estudo, o montante de IED no mundo atingiu US$ 1,5 trilhão em 2007, superando o recorde anterior, de US$ 1,4 trilhão apurados em 2000. Do total do IED em 2007, os países em desenvolvimento receberam 29% e os países desenvolvidos ficaram com 65%. As chamadas "economias em transição" ficaram com 6%.
Também na quinta-feira o banco divulgou o balanço das atividades no ano passado. Os desembolsos do Bndes alcançaram o recorde de R$ 64,9 bilhões, com crescimento de 24% em relação a 2006. Para este ano, a estimativa é de liberação de R$ 80 bilhões em volume de empréstimos. Diante desse desempenho, o presidente do banco, Luciano Coutinho, avalia que a economia brasileira pode se descolar de uma eventual crise mundial, com a perspectiva de agravamento da recessão americana. "A economia brasileira tem condições efetivas de se descolar do ciclo internacional pelo lado real. A economia vai crescer pelo ciclo que já está em curso", afirmou Coutinho.
As aprovações de projetos também alcançaram recorde histórico, de R$ 98,8 bilhões, o que representou 33% a mais sobre o ano anterior.
Para os próximos três anos, o Bndes já tem em carteira R$ 133 bilhões para a área de insumos básicos – mineração, siderurgia e papel e celulose -, sendo 50% financiados pela instituição.
De acordo com ele, a turbulência do mercado financeiro no início deste ano não teve repercussão nos financiamentos. "Nos sensores do Bndes, não bateu nada no ciclo de investimento", acrescentou.
Os projetos de investimento enquadrados pelo banco foram de R$ 117 bilhões no ano passado, o que representou um crescimento de 23% em relação a 2006. Já as consultas alcançaram a marca de R$ 126,8 bilhões, com alta de 20% na comparação com o ano anterior.
Coutinho destacou como principal demanda por empréstimos os investimentos em infra-estrutura, setor que respondeu por 40% de todos os recursos liberados. O destaque ficou por conta da geração de energia elétrica, por causa dos projetos de hidrelétricas como Estreito (entre Tocantins e Maranhão, projeto de R$ 2,7 bilhões), Foz do Chapecó (entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, custo de R$ 1,6 bilhão) e Simplício (divisa do Rio e Minas Gerais, investimento de R$ 1 bilhão). Essas usinas integram o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que tem um total de 183 projetos, somando R$ 109,9 bilhões de investimentos. Neste caso a demanda por financiamentos é avaliada em R$ 65,6 bilhões.
Os projetos de infra-estrutura receberam R$ 25,6 bilhões do Bndes em 2007, com crescimento de 62% em relação ao ano anterior. Só as aprovações nessa área foram de R$ 45,7 bilhões, respondendo por uma expansão de 104% na comparação com 2006. Como destaques, foram citados o Gasoduto Nordeste-Sudeste (Gasene), de R$ 4 bilhões, e o gasoduto Urucu-Manaus, de R$ 2,5 bilhões.
Os desembolsos do Bndes para a indústria foram de R$ 26,4 bilhões no ano passado, o correspondente a uma queda de 2% em relação a 2006. As aprovações foram de R$ 38,2 bilhões, o que também correspondeu a um recuo de 3% na comparação com o ano anterior.
Segundo Coutinho, esse resultado teve a influência das operações de exportações de valor alto feitas por montadoras no final do ano.
"Se olharmos projetos de formação bruta de capital na indústria, o crescimento foi de 43% nas aprovações e de 39% nos desembolsos", disse Coutinho.
Crise nos EUA pode atrair mais dinheiro estrangeiro ao País Erik Farina
A trajetória queda nos juros norte-americanos desencadeada pelo Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos) e a perspectiva de incremento nas taxas brasileiras devem atrair mais capital ao País. A diferença de 8,25 pontos percentuais entre os juros básicos pagos por ambos – nos EUA é de 3% ao ano, enquanto fica em 11,25% no Brasil – pode representar vantagem suficiente para que investidores internacionais troquem o risco de títulos do tesouro americano por ganhos maiores em terras tropicais. "Deverá ocorrer a saída de capitais dos Estados Unidos e a ampliação do ingresso em países como o Brasil, que oferecem rentabilidades superiores", acredita Pedro Vartanian, consultor do Núcleo de Negócios Internacionais da Trevisan Consultoria, de São Paulo.
No entanto, esse movimento não deve ser imediato. Ainda é cedo e não há dados suficientes para prever quando a fuga de capitais dos emergentes para suprir a necessidade de liquidez nos EUA irá cessar. Apenas depois do reajuste das economias internacionais os investidores avaliarão com mais carinho as opções nos emergentes.
"Provavelmente, teremos mais três ou quatro meses de adversidades com a crise dos Estados Unidos, e depois os investidores farão a mensuração de riscos e decidirão onde investir", explica Lucas Brendler, analista de investimentos da corretora Geração Futuro em Porto Alegre.
Confirmando-se o Brasil como destino de mais aportes internacionais, esses recursos provavelmente serão especulativos, que costumam flutuar em curtíssimo período de tempo, especialmente antes ou depois de crises. Geralmente, entram na bolsa de valores e permanecem poucos dias antes de buscarem novas opções. Nesse caso, os efeitos para a economia do País mais atrapalham do que ajudam. "Trata-se de um capital que entra para participação, e não um investimento direto de longo prazo. Ao sair, ele pressiona preços e força o mercado a taxas negativas de remuneração", observa Brendler.
Mesmo assim, parte dos aportes estrangeiros é importante para oxigenar empresas que recém abram seu capital ou façam novas emissões de ações. O fluxo de investimentos estrangeiros na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) em 2007 ficou positivo em R$ 45,2 bilhões, com destaque para as aquisições realizadas pelos estrangeiros nas ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês).
Já os investimentos em ativo fixos, considerados mais construtivos para a economia e feitos diretamente na expansão e modernização de empresas, só devem voltar a crescer após uma definição do cenário econômico e político dos Estados Unidos. E isso não deve ocorrer agora. A indefinição sobre os candidatos ao governo dos Estados Unidos após uma superterça que levantou mais dúvidas do que certezas empurram a perspectiva de cenário de segurança para agosto.
"Os investidores se preocupam mais com a origem do que o destino dos seus recursos. Enquanto não se tiver certeza da extensão da crise, a prioridade será por investimentos com risco zero, como no tesouro americano", comenta Antônio Carlos Fraquelli, economista da Fundação de Economia e Estatística do Estado (FEE). Segundo ele, alguns setores, como o agronegócio, serão atraentes para investimentos, e o País poderá sair fortificado após a crise.