Internet faz 20 anos e enfrenta discussão sobre expansão social
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GENEBRA (Suíça) – Ela é considerada como a maior criação dos últimos séculos para alguns. Para outros, significou a revolução da forma de se comunicar e até de se socializar. A rede mundial de computadores – a WWW – completa 20 anos de sua criação e, amanhã (13), a comunidade científica internacional marcará a data com celebrações em várias partes do mundo.
Mas para o responsável pela inovação, Tim Berners-Lee, a tecnologia ainda está em sua “infância”. Apesar do impacto que gerou em todo o mundo, apenas um quarto da população mundial tem acesso à Internet. Duas décadas depois de sua criação, a WWW levanta questões até mesmo estratégicas por parte dos governos sobre quem é que está controlando a rede.
Em março de 1989, o pesquisador do CERN (Centro de Pesquisas Nucleares) Tim Berners-Lee publicou um estudo apontando como promover a troca de documentos e pesquisas entre científicos de todo o mundo. Até aquele momento, a rede de transmissão era usada exclusivamente pelos militares americanos e poucas instituições especializadas.
A Internet existe, de várias formas e modelos, desde os anos 50, o que permitiu a transmissão de dados de vários tipos nas últimas décadas. Mas o que Berners-Lee criou foi a possibilidade de haver uma ligação entre os conteúdos de servidores e, assim, permitir que documentos e outros textos fossem compartilhados por qualquer um. A esse projeto ele chamou de “sistema de informação universal interligado”. Mais tarde, ganhou o nome de WorldWide Web (WWW).
O que o pesquisador fez, portanto, foi transformar a tecnologia em uma rede que poderia ser usada por qualquer pessoa e seu projeto se transformou na base o que se conhece hoje como Internet. A partir de seu projeto, o HTML (Hypertext Markup Language) foi criado, permitindo o uso de imagens em versões eletrônicas. A base da Internet, então, foi estabelecida com a combinção dessa linguagem com a URL (Uniform Resource Locator) e HTTP (Hypertext Transfer Protocol). Estava montada a estrutura para a transferência de documentos.
Antes mesmo da criação do Windows, o sistema entrou em funcionamento em 1991 para os pesquisadores do CERN. O sistema ganhou popularidade quando, em 1993, os endereços puderam ser registrados. O número de servidores explodiu: passou de 250 em 1993 para 73 mil dois anos depois.
Berners-Lee, em uma discurso ao Parlamento britânico nesta semana, alertou que a rede mundial de computadores está prestes a dar seu segundo grande salto. O objetivo é ter uma Internet inteligente que possa procurar respostas aos usuários, e não apenas listar sites onde a questão colocada existe.
Mas isso ainda levaria mais uma década para estar plenamente em funcionamento. “No futuro, todos os dados do mundo estarão na rede”, aposta o criador da Internet. “As pessoas estão criando novos sistemas sociais, novas formas de governar a vida”, disse. Sua esperança é de que o sistema criado por ele há 20 anos ajude o planeta a “se entender”.
Enquanto isso, o mundo ainda precisa descobrir como lidar com a censura de alguns países contra a Internet, contra fraudes na rede e verdadeiras organizações criminosas que passaram a existir graças à existência da Internet.
Outro desafio é o de garantir que a Internet chegue aos demais setores da sociedade. Hoje, 70% dos habitantes dos países ricos tem acesso à rede. Nos países em desenvolvimento, a taxa é bem inferior.
Mesmo assim, o crescimento é considerado como importante, segundo a União Internacional de Telecomunicações (UIT). Em 2002, 11% do mundo tinha acesso à rede.
A expansão em geral da Internet no Brasil também deixa a desejar. Hoje, apenas 15% das casas no País tem acesso à rede. Cinco anos antes, essa taxa era de 10%. No total, 35% dos brasileiros tem acesso à Internet. Em 2002, essa taxa era de 9%.
Em alguns países, a internet de banda larga é uma realidade para uma fração da população. Em Cuba ou em Burkina Fasso, por exemplo, a assinatura mensal de uma Internet à cabo pode custar US$ 1,6 mil.
Democracia
Amanhã, o Cern realiza em Genebra um evento para marcar a revolução tecnológica. Mas nem todos os governos estão satisfeitos com a evolução do sistema nos últimos 20 anos. Países como a China, Brasil e Índia passaram a insistir, desde 2003, em uma “democratização” do controle da rede, que estava em sua grande parte nas mãos dos Estados Unidos.
A preocupação dos países emergentes ficou ainda maior quando, durante a Guerra no Iraque, o acesso à Internet no país foi cortada. Todos os endereços estavam registrados em uma empresa na Califórnia.
Diante da pressão, o governo americano aceitou rever os termos do contrato que mantinha com a ICANN, empresa que é responsável pelos registros dos endereços em todo o mundo. A ICANN ainda passou a adotar uma estratégia para se “internacionalizar”. Mas, para diplomatas dos países emergentes, a questão ainda não está resolvida.