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Expansão do crédito deve continuar forte

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O ciclo de expansão do crédito imobiliário no Brasil deve seguir em ritmo acelerado este ano, apesar das preocupações sobre uma recessão nos Estados Unidos e risco de contaminação mundial. Nas planilhas de projeções dos bancos, não há espaço para pessimismo.
Até dezembro, a expectativa “conservadora” era emprestar à sociedade brasileira cerca de R$ 23 bilhões para a tão sonhada compra ou construção da casa própria. O valor não considera os financiamentos com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) feitos pela Caixa e, agora, por alguns bancos privados.

Uma das explicações para o elevado otimismo é a ainda baixa relação entre os financiamentos e o Produto Interno Bruto (PIB). Segundo dados do Banco Central (BC), o crédito imobiliário representa apenas 1,7% do PIB. No Chile, esse número é de 15%; no México, de 11%; e na Espanha, de 44%. Junta-se a isso o fato de o Brasil ter um déficit habitacional estimado em 8 milhões de unidades, segundo o presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Luiz Antonio Nogueira de França.
Segundo ele, com a expansão prevista para este ano, o crédito imobiliário deve atingir 2,3% do PIB e, no ano que vem, 3,6%. Essa relação só chegaria a 10% do PIB em 2015 – ou seja, o espaço para crescimento ainda é enorme, garantem os especialistas. “O crédito imobiliário no Brasil está no começo. No mundo, a modalidade representa 70% do volume de crédito para pessoa física. Por aqui, não passa de 20%”, diz o superintendente de crédito imobiliário do Citibank, João Rigobello. Segundo ele, para se atingirem índices internacionais, o País terá de começar a destinar cerca de R$ 30 bilhões por ano para o setor.
De acordo com os bancos, a faixa de financiamento que crescerá mais a partir deste ano é aquela voltada para a classe média, entre R$ 100 mil a R$ 120 mil. “Esse valor médio vai reduzir a cada ano.
Antes, a alta taxa de juros e os prazos reduzidos excluíam boa parte da população, pois a parcela não cabia no bolso dos consumidores”, explica o vice-presidente do Bradesco, Norberto Barbedo.
O maior banco privado do País, que em 2007 superou a casa de R$ 4 bilhões financiados, destinou R$ 5,3 bilhões para o crédito imobiliário este ano. O valor, diz Barbedo, inclui tanto o financiamento para empresários do setor como para o mutuário. “Continuamos bastante otimistas. As mudanças jurídicas promovidas nos últimos anos e a estabilidade econômica deram novo ânimo para o setor”, destaca o executivo.
Hoje, os consumidores conseguem empréstimos com prazos de até 30 anos no mercado nacional. Mas a média não tem superado os 20 anos, destaca Nogueira, da Abecip, também diretor de crédito imobiliário do Itaú. O banco pretende financiar este ano cerca de R$ 3,5 bilhões em imóveis. No ano passado, a instituição emprestou R$ 1 bilhão para o mutuário e R$ 1,3 bilhão para empresários, em contratos assinados, mas ainda não-desembolsados. “Em seis meses, esse dinheiro começa a entrar na economia”, destaca ele, que não acredita num possível impacto dos problemas americanos no setor imobiliário brasileiro. “Nossa principal fonte de recursos está atrelada à caderneta de poupança. Nada indica que ela vai escassear.”
Outra instituição que aposta pesado no mercado imobiliário brasileiro é o americano Citibank, que sofreu perdas bilionárias nos últimos trimestres por causa das hipotecas de alto risco nos Estados Unidos.
Rigobello salienta que, no ano passado, o banco superou em 100% a meta estabelecida para o mercado interno. E, para 2008, a expectativa é de manter esse ritmo. “Relançamos o crédito imobiliário em 2006 e podemos dizer que o mercado rapidamente percebeu a qualidade do produto do Citi”, afirma.

Aceleração nos preços de materiais preocupa construtoras
A elevação dos preços dos materiais básicos de construção, como telhas, blocos de concreto, cimento, bem acima do Índice Nacional da Construção Civil (INCC) começa a preocupar as construtoras. A preocupação é maior especialmente entre as pequenas e médias companhias que precisam competir com as gigantes do setor.

“Estamos vigilantes”, afirma o presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), João Claudio Robusti.
A entidade fez um estudo para monitorar os preços dos principais insumos usados na construção civil no estado de São Paulo e constatou, por exemplo, que a telha de fibrocimento, o bloco de concreto e o cimento subiram 33,81%, 31,11% e 23,95%, respectivamente, em 11 meses até janeiro. No mesmo período, a variação do Custo Unitário Básico (CUB) da construção civil no Estado aumentou 7,17% e o INCC, indicador nacional calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), teve alta de 5,55%.
Dos 41 itens pesquisados no período de 11 meses até janeiro, 24 deles subiram acima da média do CUB e 10 ficaram estáveis ou com variação negativa. Apenas sete itens tiveram variação comportada: os preços subiram, porém abaixo da média registrada pelo CUB.
“Altas de preços dos materiais são pontuais”, afirma Robusti, sem esconder a sua preocupação com as pressões de custos. Essa análise é compartilhada pelo coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros. “Existe uma alta nos preços da construção civil, mas não dá para generalizar”, afirma o economista.
Em 12 meses até janeiro, por exemplo, a cotação do tijolo subiu 10,14%; os serviços de projetos de engenharia aumentaram 10,70% e o aluguel de máquinas cresceu 6,20%, ressalta. Enquanto isso, o INCC variou 6,01% no mesmo período. “Dificilmente os preços das matérias-primas da construção civil subiriam nessa magnitude numa fase de desaquecimento econômico”, diz o economista.
É exatamente para garantir esse aquecimento e um desempenho do setor ainda melhor neste ano que as empresas estão se preparando.
Ainda sem os números fechados, Robusti calcula que o Produto Interno Bruto (PIB) do setor cresceu 7,9 em 2007 e projeta um acréscimo de 10,2% neste ano. Para não quebrar esse bom momento do setor, o presidente do Sinduscon-SP conta que as construtoras pequenas e médias estão formando cooperativas de compra com a intenção de ter mais poder de barganha nas negociações para a adquirir insumos e poder competir com as grandes construtoras.
 Entre a fase de formação e já em funcionamento, onze estados brasileiros têm cooperativas de compras. A Cooperativa de Compras da Construção de São Paulo (Coopercon-SP) começa a funcionar no mês que vem e 75% das associadas são pequenas construtoras.
As recentes aberturas de capital ocorridas nas grandes empresas da construção civil deram mais competitividade a essas companhias em relação às pequenas e médias, diz Robusti. Com dinheiro em caixa, as gigantes do setor agora têm cacife para negociar preços melhores nas compras de matérias-primas e podem vender imóveis com preços mais competitivos.
“As grandes empresas de capital aberto entraram no nosso mercado”, afirma Mauro Touguinha, presidente da Coopercon do Rio Grande do Sul, que aponta a cooperativa como uma saída para reduzir custos das pequenas companhias. Formada por 63 construtoras, a cooperativa gaúcha começou a funcionar no fim do ano passado e a economia obtida nas compras em conjunto é, em média, de 10%.