Executivos vêm trabalhar no Brasil e não querem ir embora
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Presidente da Volvo Cars na América Latina até novembro passado, o sueco Anders Norinder viu seu contrato de expatriação acabar e, com ele, a obrigação de ter que deixar o Brasil. "A empresa impõe limites no tempo de permanência dos executivos no exterior. Com o meu terminando, eu tinha duas opções: continuar na Volvo, mas em outro país, ou deixar a companhia e permanecer no Brasil", conta Norinder, que escolheu a segunda alternativa.
O executivo chegou no Brasil pela primeira vez em 1999, expatriado pela Volvo. Ficou até 2005, quando foi transferido para o México. Em 2009, regressou ao país para comandar as operações da companhia na América Latina do escritório em São Paulo. No tempo em que viveu no Brasil, Norinder casou-se com uma brasileira, se separou e tem dois filhos nascidos aqui. Ele conta que a família pesou na decisão por continuar no país, pois não queria ficar longe das crianças.
Além disso, o executivo sueco desenvolveu boa parte de sua carreira na América Latina. Com isso, tem contatos profissionais mais sólidos aqui do que na Europa. A situação econômica do Brasil também influenciou sua decisão. "Aqui há oportunidades melhores pois tudo está acontecendo no Brasil. Quero continuar participando desse crescimento", diz ele. O futuro ainda é incerto para Norinder. "Estou buscando novos projetos. No curto prazo, devo trabalhar com consultoria mas isso não está 100% definido", esclarece.
Seja por motivos pessoais ou profissionais, há cada vez mais casos semelhantes ao de Norinder. São executivos estrangeiros que chegam ao país como expatriados e acabam decidindo ficar após o término de seus contratos de expatriação. " Nos últimos dois anos, notamos um aumento significativo no número de profissionais que optaram por ficar no Brasil", afirma Tiago Salomão, consultor sênior da empresa de recrutamento Korn/Ferry International.
Salomão explica que cada companhia tem uma política diferenciada em relação à expatriação de executivos. Assim, o período permitido pela empresa para que o profissional fique fora de seu país de origem varia. De forma geral, no entanto, o executivo é mandado para o exterior por um número predeterminado de anos a fim de cumprir uma missão, que pode ser a implementação de um projeto, de uma unidade de negócio ou até mesmo a transferência de tecnologia ou conhecimento. Após a conclusão do objetivo, o executivo normalmente volta para casa, em um processo conhecido como repatriação.
Ao decidir permanecer no Brasil, o profissional tem algumas opções: estender o contrato de expatriação por mais alguns anos, ser contratado localmente pela unidade brasileira da multinacional ou se desligar da empresa e buscar novos projetos. Raquel Teixeira, sócia de imigração da Ernst & Young Terco, ressalta que, em qualquer cenário, o executivo precisa ter um visto que lhe permita morar e trabalhar no país. Alguns executivos estrangeiros adquirem o direito de permanecer, segundo Raquel. Isso acontece após quatro anos de trabalho no país, se ele for casado com uma brasileira ou se tiver filhos brasileiros. "Ao decidir permanecer, principalmente se não estiver vinculado a uma empresa, ele vai precisar se informar das obrigações legais, migratórias e fiscais para não ficar na ilegalidade", afirma Tatiana da Ponte, sócia-líder de capital humano da Ernst & Young Terco.
Há nove anos no Brasil, o argentino Pablo Fava, gerente geral de automação de sistemas na Siemens, veio para cá quando seu país enfrentava uma difícil situação econômica. Ele trabalhava na companhia na Argentina quando soube, internamente, que havia oportunidades na unidade brasileira. Inicialmente, ele veio para ficar dois anos, mas acabou estendendo seu contrato para completar cinco anos. "Tive a chance de voltar para a Argentina depois, mas a oportunidade de trabalho aqui era melhor, tanto no aspecto financeiro quanto para o desenvolvimento da carreira", conta Fava.
Irene Azevedo, diretora de negócios da DBM, consultoria internacional especializada em transição de carreira, afirma que as oportunidades de negócios abundantes no Brasil são responsáveis pelo número cada vez maior de executivos estrangeiros que decidem permanecer no país. "As chances de uma boa recolocação na Europa e nos Estados Unidos, principalmente para um executivo de alto escalão, não são muito boas atualmente", diz Irene. "Dependendo do nível que o profissional já alcançou, voltar para a mesma companhia em seu país de origem não é viável", completa.
Para o alemão Mesut Eken, gerente de controladoria da Siemens, é mais vantajoso financeiramente ter um contrato local no Brasil do que ser expatriado nesse momento. "Os salários, hoje, são superiores no Brasil", diz ele, que pisou no país pela primeira vez em 2002. Na época, Eken chegou para implementar um projeto de redes de celular que duraria oito meses. Acabou ficando dois anos como expatriado. Voltou para a Alemanha e, em 2009, teve novamente a oportunidade de vir ao Brasil. Dessa última vez, optou pelo contrato local.
Tatiana, da Ernst & Young Terco, explica que o contrato de expatriado dá alguns benefícios ao executivo, como ajuda financeira para moradia e escola dos filhos. A contribuição previdenciária nesses casos também continua sendo feita no país de origem. "A partir do momento que o profissional passa a ter um contrato local, normalmente perde essas vantagens e passa a seguir as políticas locais da companhia", diz a consultora.
Após 21 anos de carreira no banco europeu BNP Paribas, o espanhol Ramon Corominas decidiu abrir mão de todos os benefícios que uma grande companhia oferece para ficar no Brasil. Ele chegou aqui como expatriado em 2005, no cargo de vice-presidente da Cetelem, braço do grupo BNP Paribas. Há pouco mais de um ano, o banco impôs que ele voltasse para a Europa. Com a família perfeitamente adaptada ao Brasil, Corominas acabou se desligando da instituição para poder permanecer no país. "Foi uma decisão muito difícil, mas o lado pessoal pesou muito na minha escolha", conta o espanhol, que agora administra a franquia imobiliária Remax.
No caso de Corominas, ficar no Brasil foi muito mais uma questão pessoal do que profissional, já que ele teria uma posição em cargo executivo garantida na sua volta à Europa. Irene, da DBM, diz que não é raro isso acontecer. "Além das oportunidades de carreira, que influenciam as decisões, o estilo de vida brasileiro também cativa os estrangeiros. Se o executivo e sua família se adaptam à nossa cultura, é difícil tomar a decisão de ir embora", diz ela.