Empreendedorismo precisa chegar às escolas, diz especialista
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Enio Pinto, gerente nacional do Sebrae, diz que conhecimento precisa chegar aos rincões do País e sair do amadorismo empresarial
Beth Matias
E o que pode ser observado “a olho nu” é que a cada ano a onda de empreendedorismo cresce um pouco mais e torna-se forte. Em 2004, a Inglaterra começou o maior movimento mundial nesse setor: a Semana Global de Empreendedorismo. Em 2007, os Estados Unidos entraram no movimento. Este ano já integram o evento 58 países, pela primeira vez o Brasil e o Sebrae. A expectativa é mobilizar mais de 500 mil pessoas em atividades que envolvem os conceitos do empreendedorismo.
Só o Sebrae está comprometido com 250 mil inscrições nas mais diferentes atividades, entre as quais três Feiras do Empreendedor (Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte e Piauí), Encontro Internacional de Empreendedores, além de palestras e workshops nas 27 unidades na Federação. A Semana começou oficialmente na última segunda-feira (17) e vai até o dia 23 de novembro. Para acessar as atividades, é só entrar no site http://www.semanaglobal.org.br.
Apesar de ser o sétimo País mais empreendedor, segundo pesquisa GEM/Sebrae, o Brasil vem timidamente aplicando políticas de incentivo aos pequenos negócios. “O País precisa disseminar conhecimento empresarial na velocidade do celular. Atingir os rincões e sair do amadorismo”, acredita o gerente nacional de Atendimento do Sebrae, Enio Pinto.
Para ele, os desafios para os próximos anos são grandes e fundamentais para elevar o País a um outro patamar de desenvolvimento. O primeiro é fazer com que o ensino do empreendedorismo ganhe de vez os bancos escolares. “Precisamos ter o empreendedorismo como disciplina obrigatória nas escolas públicas e privadas. Ensina-se matemática, português e empreendedorismo. É o conhecimento à disposição de todos.”
Para se ter uma idéia, em Harvard, 70% dos alunos do MBA escolhem o empreendedorismo como matéria optativa. Um terço deles não pensa em abrir uma empresa, mas fazem esta opção para aumentar sua empregabilidade. “As empresas não vão mais dizer o que precisa ser feito. Querem que seus funcionários descubram sozinhos e ajam com autonomia e iniciativa empreendedora”, diz um dos “papas” do conceito de empreendedorismo Louis Jacques Filion.
Outro desafio, segundo o especialista do Sebrae, é criar um só “maestro” que integre as várias entidades que atualmente desenvolvem ações de estímulo ao fortalecimento dos pequenos negócios. “Talvez a criação do Ministério da Micro e Pequena Empresa como já existem em outros países. Precisamos de uma maior sinergia entre todos os projetos existentes”.
Outros países do mundo já começaram essas mudanças. Na Finlândia, por exemplo, grupos minoritários como imigrantes e portadores de necessidades especiais recebem atenção especial nos programas do governo de apoio ao empreendedorismo. A Holanda possui uma legislação de falências para facilitar a reorganização e recuperação de empresas em dificuldade. Na Suécia, existe um programa que oferece a jovens de 16 a 20 anos de idade a oportunidade de abrir um negócio próprio com o apoio de escolas e da comunidade empresarial. A França permite que os trabalhadores possam tirar um ano de licença não remunerada para abrir um negócio próprio.
No início deste ano, o presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, pediu que as mulheres ajudem a aumentar a geração de renda abrindo empresas industriais, agrícolas e de serviços. Atualmente, 1,2 milhão de mulheres argelinas trabalham fora de casa. Cinco mil empresárias já obtiveram financiamento na Agência Nacional de Microcrédito argelina.
Sonhos reais
O conceito de empreendedorismo é muito amplo. Enio Pinto mistura os conceitos de Filion e do brasileiro Fernando Dolabela. “Empreendedor é o que sonha e persegue seus sonhos. É o que precisa aprender hoje para realizar amanhã o que sonhou ontem. Só as pessoas emocionadas sonham. O brasileiro tem essa qualidade, mas falta a ele inserir o valor do protagonismo individual e social. Gerar empregos, renda e desenvolvimento”, diz.
Todos os anos, são abertas no Brasil cerca de 500 mil empresas. Mais de 20% delas fecham as portas ao completar dois anos de vida. A média mundial é de 15%, segundo o gerente do Sebrae. “Segundo a pesquisa da GEM/Sebrae, a maioria dos empresários, 53%, abriu porque viu uma oportunidade. O problema é que os outros 47% abriram por pura necessidade”. Necessidade essa que acaba gerando as “empresas de conveniência”.
O gerente explica que por conveniência o empresário acaba criando o açougue, a padaria, a papelaria etc, que se utilizam do “cliente por conveniência”, aquele que compra perto de casa mesmo que o produto não seja lá essas coisas. “São empresas com baixo potencial de geração de empregos, exportação e conteúdo tecnológico”.
A principal ação para mudar essa realidade, segundo ele, é a disseminação do conhecimento, de forma ampla e irrestrita. O Sebrae vem utilizando ferramentas importantes da tecnologia como o portal – recentemente reformulado -, o telesserviço, a internet – em especial os blogs, second life, entre outros – e em breve o celular. “Estamos cercando todas as possibilidades de entrega de informações rápidas e eficientes para quem precisa ou quer obter conhecimento. O nosso desafio agora não é gerar mais empreendedores, mas sim combater o amadorismo e a desinformação no mundo empresarial.”
Serviço
Semana Global do Empreendedorismo – http://www.semanaglobal.org.br/
Fernando Dolabela – http://www.dolabela.com.br/
Harvard Business School – http://www.hbs.edu
Sebrae – (61) 3348-7100
Agência Sebrae de Notícias – (61) 3348-7138 /2107-9362 / www.agenciasebrae.com.br