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Economia dos EUA decepciona: entenda como isso afeta o Brasil

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BBC BRASIL

 

 

Ruth Costas Da BBC Brasil em São Paulo

A economia americana cresceu apenas 0,2% no primeiro trimestre deste ano, quando a expectativa era de que tivesse uma expansão de 1%. No último trimestre de 2014, o crescimento havia sido de 2,2%, na taxa anualizada.

Entre as justificativas para a freada estão o frio extremo deste início do ano, que teria pressionado o consumo das famílias, a redução dos investimentos na exploração e prospecção de petróleo e a queda de mais de 7% das exportações do país, prejudicadas pela alta do dólar.

Mas em que essa decepção com o crescimento do PIB dos Estados Unidos afeta o Brasil?

Analistas consultados pela BBC ressaltam dois efeitos para o país – um no câmbio e o outro nas exportações.

Para começar, a notícia favorece a recuperação do real frente ao dólar, como ressaltam os economistas Thiago Biscuola, da RC Consultores, e André Perfeito, da Gradual Investimentos.

Isso porque a expectativa de muitas consultorias econômicas era que o FED, o Banco Central dos EUA, começaria a aumentar os juros básicos da economia americana a partir de setembro.

Com a decepção com os dados do primeiro trimestre, porém, é provável que isso seja postergado.

“A estimativa de nossa consultoria em particular já era que a alta (de juros nos EUA) só ocorreria em 2016 e as estatísticas mostrando essa recuperação mais lenta tornam isso ainda mais provável”, diz Biscuola.

Quando os juros sobem nos EUA, parte dos recursos aplicados em economias emergentes tende a “voltar para casa” – o que derrubar o valor da moedas desses países frente ao dólar. Nessa linha, a perspectiva de que o juros não vão subir tão cedo provoca o efeito inverso.

 
Volatilidade

Biscuola diz que parte da valorização que a moeda brasileira teve em abril – de 8,22% frente ao dólar – se deve às dúvidas sobre o ritmo e a data em que terá início um aperto monetário nos EUA.

O real chegou a seu valor mais baixo em relação à moeda americana no final de março, quando a cotação bateu os R$3,2. Desde então, recuperou-se parcialmente, com a moeda americana fechando em R$ 2,95 nesta quarta-feira.

“Fatores internos também contribuíram para essa valorização recente”, diz o analista da RC Consultores.

“Houve uma ligeira melhora nas expectativas em relação à economia brasileira depois que a Petrobras anunciou seu balanço de 2014 e que tivemos um alívio das pressões do Congresso contra as medidas de ajuste fiscal. Como disse recentemente o ministro da Fazenda Joaquim Levy, as expectativas sobre a economia do país ficaram menos voláteis.”

Perfeito, da Gradual, é mais cético sobre a contribuição desse processo de melhoria do cenário doméstico para a recente valorização do real.

Ele lembra que o peso colombiano, por exemplo, também ganhou 8,24% frente ao dólar em abril, e o rublo russo, 12%.

“Acho que no curto prazo, de fato, o real tende a se valorizar frente ao dólar, mas no longo prazo pode voltar a cair – há muitos fatores domésticos e internacionais que podem influenciar essa trajetória. O cenário ainda é de grande volatilidade.”

No que diz respeito às exportações, Perfeito ressalta que a decepção com o desempenho da economia americana frustra as expectativas do governo brasileiro de uma grande expansão nas vendas para o país.

“Até 2008 tínhamos um superávit no comércio com os americanos. Hoje temos um déficit considerável, de cerca de US$ 8 bilhões, e a expectativa era que ele fosse atenuado com ajuda da desvalorização do real frente ao dólar”, explica.

Biscuola lembra que não são só as exportações para o mercado americano que saem prejudicadas com uma recuperação do real. “Com a moeda brasileira em um patamar mais alto, os exportadores como um todo tendem a perder competitividade”, diz ele.