Dilma desafia Lina a provar que reunião existiu
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FOLHA DE S.PAULO
LETÍCIA SANDER
ENVIADA ESPECIAL A MOSSORÓ (RN)
A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) desafiou ontem a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira a apresentar provas de que houve uma reunião entre as duas no Palácio do Planalto no final do ano passado. Nesse encontro, segundo Lina, a ministra pediu para que fosse concluída rapidamente a auditoria que a Receita fazia nos negócios da família Sarney.
"A gente não afirma, a gente prova", disse a ministra em Mossoró (RN): "Nós não estamos na Idade Média, em que se prova a veracidade de alguma coisa por ênfase, né?".
Na entrevista à Folha publicada no domingo, a ex-secretária da Receita deu detalhes da roupa de Dilma e do cafezinho que foi oferecido a ela, mas disse que não sabia precisar a data do encontro. Afirmou que não conseguiu encontrar as agendas porque seus pertences estão embalados para a mudança para o Rio Grande do Norte.
Anteontem, Lina reiterou à Folha a acusação, acrescentando ter entrado pela garagem do Planalto, sem identificação, porque "era para ser sigiloso". Ontem, à Agência Estado, disse que não cabia a ela buscar provas: "É a minha palavra contra a palavra da ministra. Estive lá, foi o que declarei à Folha. É verdade o que disse. Só confirmei investigações que eles [Folha] já tinham. Acredito que a palavra da pessoa e a história da pessoa valem. Estive lá a convite da ministra, não tirei foto, não gravei. Reitero o que disse".
Sobre a descrição feita por Lina de sua ida ao Palácio do Planalto, Dilma disse: "Se vocês conhecem o Planalto, não há nenhum funcionário de 1º, 2º, 3º, 4º e 5º escalão que não entre pela garagem; se entra sempre pela garagem". E questionou o fato de a ex-secretária não exibir suas agendas: "As agendas são oficiais, tá?", afirmou. "Na primeira entrevista ao seu jornal, havia uma agenda que estava na mala, o que é estranho, porque as agendas nossas estão geralmente nos meios, normais, eletrônicos. Agora não tem agenda nenhuma, não está na mala, a agenda não existiu, era sigilosa. Então, da minha parte, não discutirei mais isso."
A Folha pesquisou todos os dias da agenda oficial de Dilma. Não consta nenhuma audiência com Lina. Mas encontros já foram omitidos da programação que a Casa Civil divulga.
Em junho de 2008, no auge da polêmica sobre a Varig, Dilma admitiu que o advogado Roberto Teixeira havia sido recebido na Casa Civil ao menos duas vezes em encontros que não constavam de sua agenda.
Ontem, Dilma reiterou que não teve ingerência na contratação ou na demissão de Lina, em 9 de julho. Ela descreveu a relação das duas como "protocolar": "Sinto muito que ela tenha ido a público dizer isso".
CONVOCAÇÃO: "ASSUNTO DILMA NÃO É PARA FALAR NA CPI", AFIRMA RELATOR
Romero Jucá (PMDB) considerou encerrada a polêmica entre Receita e Petrobras. "Lina não virá", disse. Os governistas querem evitar que Lina Vieira detalhe o encontro que afirma ter tido com a ministra. O chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, também disse não ver razão para a ex-secretária comparecer à CPI. Segundo ele, o caso é "uma grande bobagem". Na terça, serão apreciados todos os requerimentos polêmicos, entre eles o da convocação de Lina.