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Despreparo sepulta 60% das cooperativas

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Por: JEAN GREGÓRIO

A falta de profissionalização, gestão ineficiente, ausência de uma participação efetiva dos cooperados e as altas taxas de tributos provocaram o desaparecimento de pelo menos 60% das cooperativas abertas na Paraíba nos últimos oito anos. Segundo o Sindicato e Organização das Cooperativas Brasileiras no Estado da Paraíba (OCB-PB), mais de 300 entidades estavam filiadas, mas atualmente estão registradas 115. “No mundo globalizado e competitivo, a falta de modernização da gestão pode levar o desaparecimento de qualquer organização, inclusive de cooperativas. Sabemos que a base delas são as pessoas, mas quanto aos negócios é necessária uma gestão profissional e moderna, pois para sobreviver nesse mercado atual qualquer organização depende de resultados”, avalia o presidente do OCB-PB, Agostinho dos Santos.
Segundo ele, outro fator que vem impedindo a gestão mais eficiente das cooperativas, é a barreira cultural.
“A conscientização do papel e função do associado é mais comum nas regiões Sul e Sudeste devido à herança européia, enquanto na região Nordeste esse preparo e consciência ainda são tímidos, principalmente no ramo de agropecuária, que corresponde a mais de 50% do no Estado”, diz Agostinho ao acrescentar que o aumento do desemprego na última década forçou o surgimento de muitas cooperativas  no Brasil. “Acredito na força das cooperativas como alternativa viável para crescer, gerar emprego e renda na Paraíba, principalmente em cidades de pequeno porte, mas é preciso qualificar a gestão, ativar a consciência do cooperado e a organização e isso leva tempo e capacitação”, lembrou.
 
O gerente da agência do Sebrae em Guarabira, José Marcílio dos Santos, que orienta no município de Pilões a Cooperativa de Floricultores do Estado da Paraíba (Cofep), afirma que o produtor rural ainda encontra dificuldades de compreensão e entendimento sobre os princípios do cooperativismo. “Fizemos um diagnóstico que apontou essa dificuldade, por isso firmamos uma parceria entre o Sebrae, Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) e a Federação da Agricultura e Pecuária da Paraíba (Faepa) para realizarmos uma capacitação técnica continuada como forma de suprir as carências desde os conceitos, trabalho mútuo e partilha da produção”, relata.
Segundo Agostinho, as empresas estão investindo “cada vez mais pesado na profissionalização de todos os seus setores” e se as cooperativas não quiserem perder mercado e até mesmo sobreviver terão de mudar alguns conceitos ainda arraigados em boa parte dos integrantes de cooperativas. “O cooperado tem de colocar na cabeça que ele não é cliente, fornecedor ou empregado da cooperativa, mas um sócio e deve lutar para que a cooperativa cresça. Para tanto, ele tem de tomar para si essa responsabilidade e ao mesmo tempo se capacitar, se diferenciar, agregar valor nos produtos e criar lideranças que consigam manter o espírito cooperativista”, alertou.
Já a presidente da Cooperativa de Produção Têxtil, Afins do Algodão do Estado da Paraíba (Coopnatural), Maysa Gadelha, única cooperativa paraibana que exporta sua linha de produção como roupas, acessórios e brinquedos a partir do algodão colorido,  apontou para “altíssima carga tributária” como um dos maiores gargalos o setor que busca trabalhar “com um mercado mais justo” entre os vários grupos e famílias que formam a cadeia produtiva do algodão colorido no Estado. “Além da gestão profissional e um controle contábil rigoroso que mantemos, um dos grandes empecilhos atuais para taxas maiores de crescimento e até distribuição de renda entre os cooperados são as altas taxas de tributos sobre essas organizações, sejam elas pequenas, médias ou grandes”.
A ausência de uma compensação ou desoneração para “o setor como já acontece para micro e pequenas empresas como é o caso do Supersimples levam os cooperados a uma bitributação e isso tem sufocado”, desabafou Maysa, que cobra mudanças na legislação tributária para assegurar aumento de renda. Na Coopnatural, a cadeia produtiva mais de 300 famílias em 17 municípios paraibanos, mas não há redução de carga tributária específica sobre esse setor produtivo”, lembrou.
Já a consultora e sócia-gerente da Brazilliant, Luciana Rabay, diz que “o cooperativismo, às vezes, é visto como fonte de desorganização e lentidão na tomada de decisão, ou como organização de risco, pois os bancos de fomento ao desenvolvimento econômico no Estado não dão crédito às cooperativas, pois dizem que elas são um risco, e que a inadimplência de embriões de cooperativas no passado, fazem com que as cooperativas modernas, atuantes e altamente organizadas, paguem por isso”, criticou. Ela acrescentou que é “difícil falar de cooperativismo quando as instituições detentoras dos recursos para desenvolvimento regional como os bancos, as consideram risco e não praticam as linhas de crédito que no passado foram criadas especialmente para cooperativas agropecuárias”, lembrou.
Atualmente, segundo a OCB-PB, o Nordeste participa com 23% do total de 7.518 cooperativas, ou seja, 1.755 unidades. No entanto, Agostinho dos Santos não considerou esse percentual pequeno para a região pela importância que esse segmento representa na economia local. “A OCB-PB se coloca a serviço de suas cooperativas investindo na qualificação de seus dirigentes, do seu quadro social e também funcional. Estamos ainda apoiando e realizando congressos e eventos onde são discutidas as diretrizes do sistema cooperativista”, frisou. Na Paraíba, os ramos mais comuns são os da agropecuária, consumo, saúde, crédito, educacional, infra-estrutura, habitacional, trabalho, transportes e produção, confecção e mineração. Somente João Pessoa (40%) e Campina Grande (15%) concentram 55% das cooperativas do Estado.
 
“Muitas pessoas que saíram do trabalho viram na construção de uma cooperativa uma tentativa fuga ou mesmo uma tentativa de emprego por necessidade e não como uma organização que necessita de uma gestão eficiente e uma participação efetiva de todos”, afirma o gestor do Sebrae e Leite e Derivados, Ronaldo Maia, que faz parte da diretoria de crédito mantida por funcionários do Sebrae e que já foi gestor de associativismo.
No país, os números mostram a força das cerca de 7,5 mil cooperativas, espalhadas pelas 27 unidades da federal, distribuídas em 13 ramos de atividades e com a força de 6,7 milhões de associados. O cooperativismo gera quase 200 mil empregos diretos.