Crise deve reduzir número de fusões, mas gerar mais cartéis, prevê Cade
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Para o presidente em exercício do Cade, Paulo Furquim, ainda é difícil fazer previsões sobre a extensão da crise, mas ele vê uma clara tendência inicial de redução nos negócios ligados à obtenção de crédito nos bancos
Responsável por julgar os negócios em todos os setores da economia, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) do Ministério da Justiça avalia que, com a crise econômica, o movimento de fusões e aquisições deverá passar por fortes alterações. Primeiro, devem diminuir os casos de fusões simples, motivadas pela concessão de crédito pelos bancos de investimentos. E, por outro lado, deve crescer a realização de negócios mais complicados do ponto de vista antitruste, nos quais empresas são adquiridas de imediato por causa de resultados adversos, como, por exemplo, prejuízos decorrentes da dívida atrelada ao dólar.
"A tendência geral é que haja uma queda nas fusões e aquisições", afirmou o conselheiro Olavo Chinaglia. "Mas é claro que há empresários que buscam oportunidades em momentos de crise e fazem aquisições de companhias em situações difíceis." |
Para o presidente em exercício do Cade, Paulo Furquim, ainda é difícil fazer previsões sobre a extensão da crise, mas ele vê uma clara tendência inicial de redução nos negócios ligados à obtenção de crédito nos bancos. "Muito provavelmente nós teremos uma diminuição de fusões e aquisições decorrentes do estrangulamento de crédito, mas é possível que surjam algumas operações motivadas pela crise." |
Furquim reconheceu que houve queda no valor dos ativos de grandes empresas, mas enfatizou que ainda não se configurou queda na produção. "Os efeitos da crise ainda estão por vir. A economia brasileira não está diminuindo. A projeção do PIB para 2009 também é de crescimento. Isso significa que as empresas, na média, vão produzir mais." |
Outra tendência é que devem aumentar os casos de compras de bancos pequenos. O julgamento desses negócios vai representar um desafio para o órgão antitruste. As fusões bancárias são autorizadas pelo Banco Central e somente depois chegam ao Cade. Isso porque os bancos não podem conviver com qualquer expectativa de reprovação de uma aquisição, o que pode gerar uma corrida de correntistas para sacar o dinheiro, levando à falência da instituição adquirida. O Cade julga as fusões bancárias, mas, em situação de crise, há o risco de deixar negócios como esses em compasso de espera. |
A crise internacional também poderá levar a um aumento nos casos de cartel. Alguns empresários podem tentar compensar as perdas nas margens de lucros, realizando acordos de preços com concorrentes. Se as dificuldades atingirem setores inteiros da economia, os empresários podem alegar ao Cade a necessidade de realizarem "cartéis de crise". Essa figura ocorre quando um determinado setor vive um momento de dificuldade tão intenso que pede ao Cade autorização para cotar preços uniformes aos consumidores. |