Brasileira é a mais inovadora e empreendedora do mundo
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Gazeta do Povo
Pesquisas apontam a facilidade para criar processos e reter talentos como a grande qualidade das empresárias do país
Um estudo inédito da Endeavor, organização internacional sem fins lucrativos de fomento do empreendedorismo, aponta que as mulheres brasileiras têm menos dificuldade que os homens para lidar com as áreas de recursos humanos e processo produtivo das empresas – 57,7% deles têm problemas com isso, bem mais que o índice feminino (34,6%). Além disso, elas trazem mais inovação ao setor de serviços, área que responde por 60% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e apresenta maior potencial de crescimento.
A sondagem faz parte de um estudo da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), financiado pelo governo sueco. A pesquisa ouviu empreendedores com alto crescimento e faturamento anual entre US$ 10 mil e US$ 10 milhões (ou entre R$ 17,5 mil e R$ 17,5 milhões) no Brasil, Suécia, Suíça, Estados Unidos, Uganda e Jordânia.
Ainda em junho de 2011, uma outra pesquisa, do International Business Center da Grant Thornton Brasil, já tinha apontado que as brasileiras eram as mulheres mais empreendedoras do mundo. Ao consultar 11 mil organizações de 39 países diferentes, o centro registrou uma taxa de empreendedoras de 12% no Brasil, o triplo da média global.
Para o gerente da Endeavor no Paraná, Leonardo Frade, esses dados apontam que as mulheres se saem melhor e inovam com mais facilidade no processo produtivo, nas técnicas de marketing e comércio das empresas e na identificação e retenção de talentos. Os homens, por sua vez, se concentram mais nas áreas tradicionais, como a indústria, e inovam na criação de produtos, o que gera níveis mais elevados de registro de patentes.
“Isso deve ocorrer, principalmente, pelo perfil mais detalhista, pelo coeficiente maior de inteligência emocional e pelo senso mais forte de busca pela excelência do gênero feminino”, descreve. Segundo Frade, isso também faz com que as ações das mulheres sejam menos visíveis e tenham mais dificuldade em obter financiamento.
“A cultura de investimento em inovação, principalmente o investimento público, é muito mais ligada a produtos em si, que são mais tangíveis, do que a processos das áreas como o marketing e os recursos humanos”, avalia. Conforme os dados, 38,5% dos homens entrevistados obtiveram algum tipo de financiamento governamental para suas inovações, o dobro da taxa feminina (19,2%).
Premiação
É com a atenção voltada ao talento feminino no empreendedorismo que o Sebrae divulgará hoje à noite as vencedoras da etapa nacional da 21.ª edição do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios. Na estadual, que recebeu 283 inscrições e foi finalizada na segunda-feira, em Curitiba, 20 finalistas concorreram nas categorias Negócios Coletivos e Pequenos Negócios.
Duas delas estarão representanto o Paraná na etapa nacional: Juliana Bicalho Sanches, dona da escola de patinação Dancing Patinação, em Londrina (Norte do Paraná); e Giane Marisa Borges, presidente da Reciclar (Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis), de Araucária (Região Metropolitana de Curitiba).
Quanto menor a renda, maior a responsabilidade da mulher no orçamento
Uma pesquisa conduzida pela consultoria Plano CDE com 1,8 mil mulheres da base da pirâmide social de São Paulo e Recife constatou algo que já faz parte da percepção de quem trabalha estudando as diferentes classes sociais brasileiras: quanto menor a renda, maior é a responsabilidade e a importância da mulher como gerente do orçamento doméstico, tendo ela um parceiro ou não. “Mesmo quando ela não é a provedora, é ela quem é responsável pelas principais compras da casa. O poder de decisão é dela”, avalia a sócia-diretora da CDE, a antropóloga Luciana Aguiar.
O estudo teve um caráter muito mais qualitativo que quantitativo e deu origem a dois documentários: Ela Decide, Ela Faz – Instrumentos Financeiros, sobre os instrumentos financeiros utilizados por elas; e Ela Decide, Ela Faz – Chefes de família. A pesquisa identificou a maior presença feminina entre os chamados “nós de rede”, pessoas com o poder da mobilização e formação de opinião em uma comunidade. Nos vídeos da CDE é possível identificar essa característica em mulheres como a cabeleireira do bairro. “É ela quem reúne as informações da vizinha e virou referência para muito assunto”, diz Luciana.
De maneira geral, enquanto a mulher das classes mais altas é meio equilibrista, dando conta da família e da carreira como pode, a figura feminina das classes C, D e E é quase “mágica”: lida com vários turnos de trabalho e encontra alternativas de renda interessantes, que não exigem alta escolaridade, mas criatividade e dedicação, sem esquecer de onde deixar o filho enquanto faz tudo isso e da limpeza e organização da casa.