BC vai cortar remuneração de banco que não comprar carteiras de crédito
Publicado em:
EDUARDO CUCOLO
da Folha Online, em Brasília
Atualizada às 18h31
O Banco Central anunciou hoje uma nova medida para fazer com que parte do dinheiro liberado dos depósitos compulsórios dos bancos grandes chegue às instituições financeiras de menor porte. A medida terá efeito no compulsório a partir do dia 14 de novembro.
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Hoje, o dinheiro do compulsório sobre depósitos a prazo é recolhido na forma de títulos públicos. Ou seja, o banco recebe uma remuneração igual a do título. Agora, os bancos irão recolher apenas 30% em títulos. Os outros 70% serão recolhidos em espécie, ou seja, vão ficar parados no BC sem remuneração.
Para não sofrer essa "punição", os grandes bancos terão de comprar carteiras de crédito e outros papéis de bancos menores que estejam com problemas de liquidez (falta de dinheiro).
O BC já havia autorizado os bancos a recolherem somente 30% do compulsório a prazo, desde que comprassem carteiras de bancos menores. Alguns bancos, no entanto, preferiam não usar esse desconto e ficar com 100% aplicado em títulos públicos. Com isso, havia R$ 28 bilhões que poderiam ser liberados para esses bancos, mas continuavam depositados no BC.
A alíquota do compulsório não mudou: os bancos continuam obrigados a recolher 15% dos depósitos a prazo (CDB, por exemplo) feitos pelos seus clientes, mas podem ter o desconto de 70% nesse valor se comprarem carteiras de bancos menores dentro das regras fixadas pelo governo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já havia reclamado publicamente dos grandes bancos que estavam segurando o dinheiro liberado pelo BC ao invés de emprestá-los para outras instituições e empresas.
Falta de dinheiro
A falta de dinheiro em circulação e a retração do crédito é o principal reflexo da crise financeira internacional no Brasil. Com bancos internacionais com problemas, cai a confiança para realização de empréstimos entre bancos e países, e quando eles ocorrem, ficam mais caros e com prazos mais apertados.
O Banco Central já injetou cerca de R$ 51 bilhões na economia no mês de outubro com as mudanças anunciadas nas regras dos depósitos compulsórios. Ao todo, as medidas do BC podem significar a liberação de mais de R$ 100 bilhões na economia.
À medida que esses recursos saem do BC e são injetados na economia, o total de dinheiro em circulação aumenta. Quando isso acontece, a tendência é de queda dos juros o que facilita o acesso.
Mais papéis
Podem vender a carteira de crédito aqueles bancos com patrimônio de até R$ 7 bilhões. Além da carteira, essas instituições podem vender também outros ativos, entre eles, aqueles ligados a fundos de investimentos desses bancos.
Hoje, o BC colocou mais um papel nessa lista: depósitos interfinanceiros de instituições não-coligadas.
Também pode ser vendidos: direitos creditórios oriundos de operações de leasing; títulos de renda fixa emitido por entidades privadas não financeiras integrantes de fundos de investimentos regulamentados pela CVM; direitos creditórios integrantes de carteiras de fundos de investimentos de direitos creditórios (FIDC) regulamentados pela CVM; quotas de fundos de investimentos em direitos creditórios (FIDC) organizados pelo Fundo Garantidor de Crédito.