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Balanços crescem muito e diretor da Vale teme ‘monstro’

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Valor Econômico

Por Fernando Torres | De São Paulo

Ninguém tinha dúvida de que a aplicação das normas internacionais de contabilidade aumentaria o tamanho e o número de notas explicativas divulgadas em conjunto com os balanços das empresas. Mas a sensação geral é que se passou da conta. "Tenho receio de que as demonstrações contábeis se transformem em um monstro que ninguém consiga ler e entender", afirmou o diretor de controladoria da Vale, Marcus Severini.

O executivo diz que não é contra prestar mais informações, mas acredita que nem todas precisam estar nos balanços, já que muitas se repetem no Formulário de Referência, nos relatórios anuais das empresas, no site de relações com investidores e nos comunicados à imprensa.

Severini participou ontem do 1º Encontro de Contabilidade e Auditoria, organizado pela Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca) e pelo Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon).

Presentes no mesmo evento, representantes da academia, analistas de investimento e até mesmo os auditores concordaram com a avaliação de que os balanços estão maiores do que precisariam.

O professor Ariovaldo dos Santos, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, cita por exemplo casos em que as notas explicativas detalham todos os 43 pronunciamentos contábeis, além das interpretações e orientações emitidas pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) e ratificadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). "Que sentido faz isso?", questiona o professor.

Para ele, as empresas deveriam procurar ajuda de profissionais da área de comunicação e de letras para tornar as notas mais sucintas. "Essas pessoas vão conseguir resumir 12 páginas em uma e meia com competência", diz Santos, que avalia que os balanços, da forma como são divulgados hoje, são desinteressantes.

Reginaldo Ferreira Alexandre, presidente da regional São Paulo da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec-SP), conta que ouviu de um presidente de companhia aberta uma reclamação sobre o tamanho do seu próprio relatório. Quando procurou saber o motivo, esse executivo ouviu os contadores responsabilizando os auditores, que culparam os advogados, que apontaram novamente os contadores. "Além do aumento do tamanho por conta das novas demandas da regulamentação, existe também relatório mal feito. Em vez de escrever uma linha, a empresa gasta três páginas", afirma Alexandre. "As notas precisam ser mais simples, mais claras e mais objetivas", acrescenta o presidente da Apimec, lembrando que muitas vezes os analistas têm poucas horas para ler os balanços e emitir seus relatórios.

Na opinião de Wanderley Olivetti, sócio de auditoria da Deloitte, as notas explicativas dos balanços acabaram ficando muito grandes porque as empresas ficaram com receio de serem acusadas de não querer divulgar determinada informação. Por isso, ele não vê espaço para redução imediata do tamanho das demonstrações financeiras.

Já o sócio da Ernst & Young Terco Paul Sutcliffe tem uma visão diferente. "A norma requer a divulgação, mas é possível fazer de forma mais resumida", afirma. Ele cita ainda que a nota que faz a descrição das práticas contábeis poderia ser menor, enquanto aquela que trata das premissas usadas pela administração deveria ser maior e mais detalhada.

De acordo com Alexandre, da Apimec-SP, o problema dos balanços grandes não é novo. Ele conta que, ao participar por vários anos da comissão julgadora de um prêmio que a Abrasca dá para os melhores relatórios anuais, foi possível observar mudanças. "Eles foram ficando mais magrinhos. E as empresas que reduziram foram ganhando destaque", diz.

Em outro ponto relacionado com a comunicação das companhias abertas com o público, o Comitê de Orientação para Divulgação de Informações ao Mercado (Codim) deve discutir, em reunião marcada para hoje, uma proposta para se acabar com as colunas referentes ao resultado da "controladora", que hoje sai ao lado dos números consolidados dos grupos. Também entrará na pauta o rodízio de auditoria e o fim da necessidade de publicação dos balanços em jornais.

Ibracon pede transparência na discussão sobre o rodízio

Por Marina Falcão | De São Paulo

O Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon) encaminhou uma carta à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pedindo que a autarquia torne públicas as críticas que recebeu durante a audiência sobre o rodízio de firmas de contabilidade nas companhias abertas.

Praxe do órgão regulador brasileiro, a análise dos comentários e sugestões no período após o encerramento da audiência – e antes da emissão da norma – ocorre sob regime confidencial. Essa prática, no entanto, contrasta com o modelo de transparência adotado, por exemplo, pela Securities and Exchange Commission (SEC), nos Estados Unidos.

Segundo Alexsandro Broedel, diretor da CVM, essa é a primeira vez que a autarquia recebe um pedido de divulgação das críticas antes da conclusão da análise. "A demanda é inédita e achamos pertinente. Mas primeiro é preciso resolver as questões operacionais necessárias para a divulgação do material", diz Broedel. "Se abrirmos os dados de uma audiência, teremos que abrir de todas", complementa.

Entre os dias 15 de julho e 15 de agosto, a CVM recolheu sugestões para sua proposta de ampliar de cinco para dez anos o prazo de rotação de firmas. A contrapartida exigida das empresas seria a estruturação de um comitê para fiscalizar as atividades dos auditores.

A iniciativa da CVM reinaugurou a polêmica discussão sobre o rodízio obrigatório de auditorias. A exigência, presente hoje em poucos países, como Brasil e Itália, está sendo avaliada pelos reguladores dos demais países da União Europeia e dos Estados Unidos.

"O fato de o rodízio estar sendo discutido lá fora, não significa que será implementado", aponta Ana Maria Elorrieta, presidente do Ibracon. Para ela, a instalação do comitê de auditoria deveria ser suficiente para que a empresa não precisasse mais trocar de firma. "Nos últimos 15 anos, houve diversos avanços na fiscalização da CVM e outros autorreguladores", justifica.

Segundo Broedel, a análise dos comentários deve demorar pelo menos mais um mês. "Algumas pessoas confundiram. Não estamos discutindo a necessidade do rodízio, e sim a forma do comitê", diz.

Broedel assume que algumas questões pontuais sobre o formato do comitê estão sendo revisadas. É o caso, por exemplo, da necessidade de troca dos seus membros a cada cinco anos e da tarefa de "avaliar e monitorar" a adequação das transações com partes relacionadas atribuída a eles na proposta original do órgão. "Mas não abriremos mão de que o comitê seja previsto no estatuto da empresa", diz.

Empresas ainda patinam na adoção

Por Natalia Viri | De São Paulo

Um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef) de Campinas (SP) em parceria com a KPMG e a Policamp mostra que as empresas ainda estão patinando para se adequar às novas regras contábeis.

A pesquisa refere-se ao exercício de 2010, primeiro ano em que a entrega das demonstrações financeiras no padrão IFRS passou a ser obrigatória. Foram avaliadas 61 empresas de grande porte e 39 empresas de pequeno e médio porte (PMEs) da região – principal polo industrial e de tecnologia do Estado de São Paulo-, que, juntas, somam ativos de R$ 119 bilhões e geraram um caixa de R$ 12 bilhões em 2010.

Como era de se esperar, existe um grande vale entre os padrões de divulgação das empresas de grande porte – com ativo total superior a R$ 240 milhões ou receita bruta anual acima de R$ 300 milhões – e das PMEs. Em 2010, 87% das grandes empresas da amostra divulgaram suas demonstrações financeiras de forma completa – em 2009, esse porcentual foi de 81%. Já no universo das PMEs, apenas 59% entregaram todas as peças contábeis em relação ao exercício do ano passado. É o primeiro ano em que esse tipo de empresa integra a pesquisa.

A checagem das demonstrações financeiras por auditores independentes foi observada em 85% das grandes empresas da amostra em 2010, mesma fatia verificada no ano anterior. O parecer de auditores registrados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é uma exigência para as companhias de capital aberto, instituições financeiras e empresas de grande porte. Entre as pequenas empresas, para as quais a obrigatoriedade não se aplica, apenas a metade teve seus balanços auditados.

O número de ressalvas por parte dos auditores, que ocorrem quando há itens que não atendem às especificações previstas pelo IFRS, também aumentou, refletindo o fim do processo de convergência para o novo padrão.

Dentre as grandes empresas cujas demonstrações foram auditadas, apenas 38% não apresentaram nenhuma ressalva em 2010, uma redução significativa frente ao exercício anterior (85%).

Os desvios constatados pelos auditores concentraram-se no cumprimento da resolução que diz respeito aos ativos imobilizados, que determina que se atendam a critérios como a revisão da vida útil dos ativos em vez de taxas de depreciação fiscais.