Apenas 16% dos cientistas do País estão em empresas
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O número ajuda a explicar a baixa inovação no setor produtivo nacional; Nos EUA, porcentual é de 80%
Fernando Dantas
As empresas brasileiras têm poucos cientistas, e não sabem utilizar o potencial de pesquisa e inovação proporcionado pela interação com as universidades e institutos de pesquisa. Este é um importante fator para explicar por que as atividades de pesquisa e desenvolvimento no Brasil ainda são fortemente dominadas pelo setor público.
A negligência das empresas em construir pontes com o mundo da ciência também está na raiz do baixo nível de inovação do setor produtivo nacional, apesar do razoável desempenho científico do País – em 2005, o Brasil foi o 17º maior produtor de ciência no mundo, medindo-se pela publicação de trabalhos em publicações especializadas.
Segundo um trabalho recente de Carlos Henrique Brito Cruz, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), apenas 16% dos cientistas brasileiros trabalham em empresas, comparado com porcentuais próximos a 80% em países com os Estados Unidos e a Coréia do Sul.
Apesar da visão tradicional de que a universidade brasileira não está preparada para ir além da pesquisa pura e para dar suporte à inovação no mundo dos negócios, Brito Cruz aponta que as empresas também têm a sua responsabilidade pelas falhas de comunicação. "O Brasil trabalhou muitos anos com a idéia errada de que a pesquisa feita na universidade poderia substituir a pesquisa feitas nas empresa, e hoje uma das principais restrições que nós temos à inovação e ao desenvolvimento tecnológico é o fato de que nas empresas há um nível muito reduzido de cientistas", ele diz.
MUDANÇAS
O presidente da Fapesp, porém, já vê alguns sinais de mudança nesta mentalidade, em empresas que se organizaram para acessar o potencial de cooperação com a universidade, criando comitês científicos ou até mesmo o cargo de diretor científico (ver matéria ao lado). Ele também atribui esta melhora à evolução da legislação de incentivo à pesquisa, como a Lei de Inovação, apesar de ainda ver diversos problemas nelas, e uma certa falta de confiança das empresas na estabilidade das regras do jogo.
Os números do trabalho de Brito Cruz mostram que a atividade científica no Brasil ainda é basicamente exercida pelo setor público. O País investe anualmente cerca de 1% do Produto Interno Bruto (PIB)em pesquisa e desenvolvimento (P&D), o que o coloca muito longe da média de 2,24% dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne os países desenvolvidos e alguns emergentes. Na América Latina, porém, o Brasil é o líder em P&D, com Cuba em um distante segundo lugar, investindo 0,6% do PIB.
Do total investido pelo Brasil, 60% provém de financiamento público, como financiamento direto do governo ou despesas com o ensino superior.
A presença dominante do setor público na P&D brasileiro fica evidente quando se leva em consideração que, apesar de o total gasto no País na atividade ser um terço ou menos do que é despendido pelos países líderes (como a Finlândia, com 3,5% do PIB, ou a Suécia, com quase 4%), a diferença cai muito quando se compara apenas a despesa pública na atividade. Enquanto o setor público brasileiro gasta pouco menos de 0,6% do PIB em P&D, nos dois países líderes, os EUA e a Suécia, aquele indicador fica entre 0,8% e 1%.
No setor privado, em compensação, a distância é enorme. O Brasil gasta menos de 0,4% do PIB, enquanto a Suécia e o Japão, respectivamente o líder e o vice, gastam entre 2,4% e 2,6% do PIB. No caso do setor público, portanto, os líderes investem menos do que o dobro do Brasil, como porcentual do PIB, enquanto que, no setor privado, os líderes investem cerca de cinco vezes mais em pesquisa e desenvolvimento.