Ainda sozinho no IFRS
Publicado em:
Valor Online
De São Paulo
|No trimestre em que as companhias brasileiras começam a divulgar os balanços pelo padrão contábil global IFRS, a demonstração financeira do Santander Brasil é um exemplo de como as novas regras podem ter impacto relevante nos resultados. O lucro líquido do banco no quarto trimestre ficou em R$ 830,8 milhões pelas normas brasileiras de contabilidade e em R$ 1,92 bilhão pelo IFRS. No acumulado de 2010, o resultado foi de R$ 3,86 bilhões conforme o padrão brasileiro e bem maior, de R$ 7,38 bilhões, pelo novo modelo.
Boa parte da enorme diferença verificada entre os números está no tratamento dado ao ágio resultante da compra do banco ABN Amro. Enquanto pelas normas brasileiras o ágio é amortizado ao longo de até dez anos, pelo IFRS essa operação é vedada. Somente a reversão da amortização do ágio rendeu R$ 3,3 bilhões ao banco espanhol no ano.
O Santander, que já havia divulgado números em IFRS, já adotado pela sede do banco na Espanha, explicou aos investidores como será a política de distribuição de dividendos diante de números tão diferentes. O banco pagará aos acionistas 50% do lucro pelo critério IFRS, o equivalente a 80% do resultado no padrão contábil local.
O Bradesco, primeiro banco a anunciar os números fechados de 2010, na segunda-feira, seguiu apenas o padrão brasileiro. Por decisão do Banco Central, os bancos terão até o fim de abril para apresentar o balanço consolidado em IFRS. Procurado, o Bradesco não informou quando pretende fazê-lo. O Banco do Brasil também não tem data para a publicação e o Itaú Unibanco não respondeu. No caso do Itaú e do Bradesco, não deve haver diferença relevante referente a ágio com o IFRS, porque as amortizações foram antecipadas.
Enquanto Bradesco e Itaú costumam pagar entre 30% e 35% do lucro anual na forma de dividendos, o BB tem por prática pagar 40%.
Na avaliações dos analistas, o desempenho do Santander no fechamento do ano ficou aquém do esperado. O lucro de R$ 7,38 bilhões em 2010 pelo IFRS foi 34% superior ao de 2009. O resultado do trimestre, de R$ 1,92 bilhão, foi 20,6% maior que o do mesmo período de 2009, mas 0,9% inferior ao do trimestre anterior.
O fraco desempenho nos últimos três meses do ano, quando o volume da indústria, por motivos sazonais, costuma ser mais favorável, reduziu o nível médio de lucratividade em 10%, ressaltou o analista Nataniel Cezimbra, do BB Investimentos. Ele enumera, em relatório, alguns fatores que afetaram o resultado: perda em receitas com títulos e valores mobiliários, que reduziu o resultado de intermediação financeira, aceleração das despesas de pessoal e aumento de provisões de Imposto de Renda (IR) e de Contribuição Social Sobre Lucro Líquido (CSLL).
A analista da corretora Ativa Luciana Leocadio avaliou o resultado do banco como "marginalmente negativo". Em relatório, ela destaca o recuo de retorno sobre patrimônio, menor evolução da carteira de crédito ante o sistema e elevação de despesas operacionais.
As concessões de crédito, que começaram a ganhar impulso no Santander no fim do segundo trimestre, cresceram abaixo do esperado nos últimos três meses do ano. Foi verificada uma expansão de 4,3% da carteira de crédito em relação a setembro, bem inferior ao desempenho apresentado pelo concorrente Bradesco, por exemplo, que elevou o saldo em 7,3%.
No ano, a carteira de crédito do Santander cresceu 16% e alcançou R$ 160,56 bilhões (IFRS). As pessoas físicas e pequenas e médias empresas mantiveram-se como destaques. O segmento de pessoa física cresceu 22,9% no ano, e pequenas e médias empresas, 21,8%. "São as linhas de maior crescimento e margem, portanto nosso foco", afirmou Fabio Barbosa, presidente do Santander.
Embora o Santander não anuncie projeções, Barbosa acredita que a oferta de crédito no sistema deve crescer de 15% a 20%. O problema é que a carteira do banco tem crescido menos que a da concorrência. "O banco precisa ganhar mercado e margem", diz Cezimbra, do BB Investimentos. "Mas com a desaceleração do crédito projetada para este ano, o Santander corre o risco é de perder."
Um dos pontos positivos do balanço do Santander foi a queda de inadimplência, que permitiu, consequentemente, uma redução das despesas com provisões para devedores. O índice de inadimplência para atrasos superiores a 90 dias saiu de 5,9%, no quarto trimestre de 2009, para 3,9%. As despesas com provisões caíram 17,5% em 12 meses, de R$ 9,9 bilhões para R$ 8,2 bilhões.
O presidente Fabio Barbosa também chamou atenção para as despesas gerais (administrativas e de pessoal), que somaram R$ 11,23 bilhões, aumento de 2,6% na comparação com 2009. "O crescimento foi abaixo da inflação", ressaltou. Grande parte da expansão dos custos ficou concentrada no quarto trimestre (3,6%). O Santander abriu 110 agências em 2010, sendo 74 entre outubro e dezembro. Neste ano, deverão ser inauguradas outras 100 agências.