Real vira a pior moeda do mundo com medidas cambiais
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Portal Exame
Esforços do governo brasileiro para proteger exportadores está gerando prejuízos para investidores estrangeiros que optam pelo real
Nova York – O real acumula a maior queda entre as principais moedas do mundo neste mês, gerando prejuízos para investidores estrangeiros. A baixa é resultado dos esforços do governo para proteger os exportadores.
A moeda perdeu 5,4 por cento em relação ao dólar desde o início do mês, o pior desempenho do mundo depois da rúpia do Sri Lanka. A desvalorização do real fez com que investidores de títulos em moeda local acumulassem perdas de 5,5 por cento em março em dólares, comparado ao ganho de 0,5 por cento para a dívida em peso mexicano, de acordo com dados do Bank of America.
O governo acelerou o ritmo de corte da taxa básica de juros no início de março para diminuir a atratividade dos títulos de renda fixa do País e frear investimentos que impulsionam os ganhos cambiais. A equipe econômica, que também elevou o Imposto sobre Operações Financeiras de empréstimos no exterior este mês, adota postura diferente do México, que tem evitado intervir no mercado de câmbio mesmo com a valorização de 9,8 por cento do peso, a maior alta entre as principais moedas.
“As autoridades brasileiras são muito mais intervencionistas que o Banco Central do México”, disse Nick Chamie, diretor global de mercados emergentes da RBC Capital Markets em Toronto, em entrevista por telefone. “No Brasil, o que parcialmente reforça a essa postura intervencionista é que eles querem manter a indústria competitiva, mas a valorização da moeda é vista como predatória para a indústria.”
O rendimento das Notas do Tesouro Nacional série F com vencimento em 2021 avançou 17 pontos-base, ou 0,17 ponto percentual, este mês para 11,46 por cento, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
‘Principal defesa’
O Banco Central reduziu a taxa básica de juros em 75 pontos-base, ou 0,75 ponto percentual, em 7 de março para 9,75 por cento, um corte maior do que a expectativa da maioria dos economistas sondados pela Bloomberg. O BC já baixou a Selic em 275 pontos-base desde agosto.
“A principal defesa do Brasil é a administração do câmbio”, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em depoimento ao Senado em 13 de março.
Em viagem à Alemanha no começo do mês, a presidente Dilma Rousseff prometeu tomar todas as providências necessárias para proteger a economia do que ela chamou de “tsunami monetário” criado pelos esforços de desvalorização cambial das nações desenvolvidas. O governo ampliou a cobrança da alíquota de 6 por cento do Imposto sobre Operações Financeiras em empréstimos tomados no exterior e títulos emitidos lá fora para incluir também captações com prazos de até cinco anos. A cobrança do IOF, que originalmente se aplicava a captações com prazo de até dois anos, já havia sido estendida em 1º de março a empréstimos de três anos.
O Banco Central e o Ministério da Fazenda não quiseram comentar o assunto, segundo e-mails de suas assessorias de imprensa.
Enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo se desacelerou para 5,85 por cento nos 12 meses até fevereiro, a inflação continua acima da meta de 4,5 por cento, com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
“O crescimento e o valor do real subiram na lista de prioridades estabelecidas pelo governo, com a inflação provavelmente ocupando um assento traseiro”, escreveram os economistas do Barclays Plc Guilherme Loureiro e Marcelo Salomon em relatório divulgado ontem. “O Banco Central se uniu aos esforços para conter a valorização do real e estimular o crescimento ainda mais com um corte mais agressivo.”
Loureiro e Salomon não estavam disponíveis para fazer comentários adicionais para esta reportagem ontem, depois do horário comercial.
O Banco de México é o único entre os principais bancos centrais da América Latina que deixou a taxa básica de juros inalterada no último ano. A autoridade monetária mexicana mantém o juro básico no menor nível histórico, de 4,5 por cento, desde julho de 2009.
‘Hiperativo’
“O que se vê no caso de um banco central hiperativo é um esforço para corrigir esses desequilíbrios artificialmente”, disse o ministro da Fazenda do México, José Antonio Meade, durante entrevista na sede da Bloomberg em Nova York este mês. “No caso do México, temos uma posição equilibrada que não exige o tipo de políticas intervencionistas para corrigir — em alguns casos artificialmente — os desequilíbrios que se vê. É algo de que podemos nos orgulhar.”
Eduardo Suarez, estrategista de câmbio do Bank of Nova Scotia em Toronto, disse que a inflação no Brasil vai limitar o espaço para reduções maiores de juros pelo BC.
O real vai se valorizar 6,8 por cento, o maior ganho no mundo todo, até o fim do ano, de acordo com a estimativa mediana de uma sondagem da Bloomberg com 26 economistas.
“As pessoas estão começando a questionar se o Banco Central pode continuar cortando juros sem empurrar a inflação para cima”, disse Suarez.