Salário real cai 11% de 1996 a 2003
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O valor médio real dos salários pagos nas empresas brasileiras caíram 11% entre 1996 e 2003, segundo pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em sete anos, o recuo dos salários marcou as alterações nas empresas formalmente constituídas no País, que aprofundaram também o processo de terceirização no período. Enquanto caiu a participação da indústria no volume de salários pagos, as empresas de prestação de serviços elevaram a sua fatia.
A pesquisa do IBGE mostrou que, em termos reais (descontada a inflação medida pelo IPCA no período), o salário médio atingiu R$ 525,29 em 2003, ante R$ 590,00 em 1996. Os únicos segmentos pesquisados que registraram aumento de salários em termos reais no período foram a administração pública (22%) e a construção (33%). No caso da indústria de transformação, houve queda de 9%.
A coordenadora do estudo, Denise Guichard, sublinhou que os salários caíram em todos os setores pesquisados, mas a queda de 11% deveu-se especialmente às empresas com mais de 100 pessoas. O número de empresas investigadas foi de 1,5 milhão. As demais 3,2 milhões de empresas do cadastro do IBGE não são empregadoras, possuem apenas sócios-proprietários.
Os maiores salários médios pagos no decorrer do período pesquisado estiveram no segmento de intermediação financeira, seguros e previdência complementar (R$ 1.627,00 em 1996 e R$ 1.438,00 em 2003, com recuo de 12%). Os menores salários em 1996 e 2003, por outro lado, foram pagos pelas atividades de pesca (R$ 313,00 em 1996 e R$ 235,00 em 2003, com queda de 25%) e alojamento e alimentação (inalterado em termos reais em R$ 254,00 nos dois anos pesquisados).
Denise destacou que as grandes empresas estão trabalhando com estrutura “mais enxuta” e tentam manter apenas os funcionários essenciais à produção, terceirizando as atividades quando possível. O processo de terceirização fez com que, de 1996 a 2003, a participação relativa da indústria de transformação no número de empregados assalariados tenha caído de 32,6% em 1996 para 29,9% em 2003, enquanto a participação das atividades imobiliárias, de aluguel e serviços prestados às empresas cresceu no período de 10,4% para 13,0%.
O aumento ocorreu especialmente em atividades voltadas à prestação de serviços, como imunização, higienização e limpeza em domicílios; seleção, agenciamento e locação de mão-de-obra e outras atividades de apoio operacional. Denise destacou também que, entre as empresas com mais de 100 empregados, todas perderam participação no volume total de salários entre 1996 e 2003, exceto atividades imobiliárias, aluguel e serviços prestados às empresas, que aumentou a participação em 2,1 ponto porcentual no período.
Em 2003, o Sudeste concentrava 52% dos estabelecimentos do País, posição hegemônica mas inferior a 1996 (57%). No caso de São Paulo, o estado concentrava 29% dos estabelecimentos, de longe o maior porcentual estadual do País, mas perdeu pontos ante 1996 (32%).
No que diz respeito ao pessoal assalariado, a participação do Sudeste permaneceu elevada em 2003 (57%), mas inferior a 1996 (60%), assim como ocorreu em São Paulo, cuja participação nesse caso caiu de 36,5% para 34%, especialmente por causa da indústria (construção, transporte terrestre, têxteis, produtos alimentícios, máquinas e equipamentos, veículos automotores). Por outro lado, ainda no caso do pessoal assalariado, Minas Gerais (10,3% para 10,6%) e Espírito Santo (1,8% para 2,0%) elevaram as participações, mas não o suficiente para compensar as quedas ocorridas em São Paulo e no Rio de Janeiro (11,9% para 10,6%).
“As participações relativas de algumas regiões caíram e outras aumentaram, mas as variações continuam muito baixas”, observou o técnico do IBGE, Rogério Magalhães dos Santos. Ele admite que, a permanecer esse ritmo de mudança, a concentração, na Região Sudeste e em São Paulo, não vai se alterar tão cedo.
Diminui participação da indústria no emprego
A indústria de transformação perdeu espaço como atividade empregadora, revela a pesquisa Cadastro Central de Empresas 2003, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O setor permanece como a principal atividade econômica em relação ao total de pessoas empregadas, mas com fôlego menor. Segundo o IBGE, a indústria de transformação representava 32,6% do pessoal assalariado em 1996.
Em 2003, este percentual caiu para 29,9%. O recuo de 2,7 pontos percentuais ocorreu em razão de atividades como fabricação de produtos têxteis e fabricação de combustíveis (coque, petróleo, produtos nucleares e álcool), fabricação de veículos e fabricação de produtos alimentícios.
As indústrias de transformação reduziram sua participação também em relação aos salários pagos. De 1996 a 2003, o percentual caiu de 38,4% para 35,6%. Apesar disso, as indústrias se mantiveram como principal atividade geradora de salários porque concentravam mais de um terço do total de salários pagos nos dois anos analisados.
As atividades que apresentaram a maior redução consolidada nas participações dos salários foram: fabricação de produtos alimentícios e bebidas, fabricação de máquinas e equipamentos, fabricação de produtos têxteis, metalurgia básica e fabricação de material eletrônico e de comunicações.
Enquanto a indústria teve sua participação reduzida, o comércio foi a atividade que apresentou maior crescimento em relação ao total de pessoas empregadas. De 1996 a 2003, o percentual passou de 21,9% para 25,8%. O crescimento foi verificado principalmente no comércio varejista, com destaque para o comércio varejista de tecidos, artigos de armarinho, vestuário, calçados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, hipermercados, supermercados, lojas de conveniência, produtos farmacêuticos, material de construção e material para escritório, entre outros.
A participação do comércio nos salários também aumentou e passou de 13,8% para 16,4% entre 1996 e 2003. O IBGE destaca que apesar do aumento da participação no total de salários pagos, a atividade ainda representava menos da metade da participação das indústrias de transformação.
A terceira principal atividade empregadora em 2003 era o grupo atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados a empresas. Sua participação subiu de 10,4% em 1996 para 13,0% em 2003. O crescimento atingiu principalmente a atividade de serviços prestados a empresas, com destaque para seleção, agenciamento e locação de mão-de-obra, atividades de imunização, higienização e limpeza em prédios e domicílios.
Ministério apóia empreendedorismo juvenil
O fomento ao empreendedorismo juvenil é uma das principais apostas do Ministério do Trabalho e Emprego. Desde janeiro, a pasta vem realizando esforço em conjunto com ONGs, essencialmente nas periferias das capitais brasileiras no sentido de desenvolver essa prática. Em Porto Alegre, o governo federal está promovendo, por exemplo, a cadeia produtiva do skate.
Segundo o coordenador de empreendedorismo juvenil do departamento de Políticas de Trabalho e Emprego para Juventude do ministério, Álisson Araújo, na Capital gaúcha cerca de 30 jovens serão, em breve, responsáveis diretos pelo negócio. Eles estão sendo preparados para produzir desde peças para montagem de skate até acessórios e pistas, além de gerenciarem o negócio. Em Fortaleza, o governo federal já está investindo na cadeia produtiva do surf, em que os jovens fabricam e vendem pranchas nas praias locais.
Araújo esteve ontem em Porto Alegre participando do painel Empregabilidade e Empreendedorismo do projeto Juventude em Foco, da Secretaria Municipal da Juventude. Araújo explicou que o governo federal está investindo no projeto Consórcio Social da Juventude, que promove cursos de educação e capacitação com o objetivo de agilizar o ingresso dos jovens no primeiro emprego.