”Cenário para empresas ficou mais sombrio”
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Fonte: O Estado de S. Paulo
O ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola afirmou em entrevista ao programa Economia & Negócios, transmitido pela Rádio Estadão ESPN, que a tendência natural, diante de uma perspectiva de baixo crescimento da economia global, é de que o BC adote uma política de redução de juros. Segundo o economista, o Brasil tem um "grande arsenal" para lidar com uma crise externa, principalmente a política monetária, com redução de juros e novas regras para depósitos compulsórios dos bancos. Ele porém diz que "as perspectivas para o mundo corporativo nos próximos meses ficaram mais sombrias".
Como o rebaixamento da nota de crédito norte-americana afeta a economia mundial?
O rebaixamento evidencia as dificuldades fiscais da maior potência econômica do planeta, que não está sozinha nessa situação, existem problemas até mais graves na Europa. A grande dúvida do mercado é se teremos apenas uma recessão nos próximos anos ou se será uma depressão econômica. Eu acredito que os papéis da dívida dos EUA continuam sendo um risco muito baixo. É paradoxal, mas houve um aumento na procura pelos títulos americanos após a notícia do rebaixamento da nota de crédito do país. Isso mostra que os EUA continuam sendo o grande refúgio em momentos de tormenta. O que me preocupa bastante é a falta de crescimento do país, os indicadores continuam muito ruins por lá. E também o risco fiscal na Europa, ou seja a propagação da crise que atinge mais fortemente Grécia, Portugal e Irlanda, para países maiores, como Itália e Espanha.
O Índice Bovespa fechou em baixa de 8,08% nessa segunda-feira. Qual é a expectativa do senhor em relação ao mercado de ações nos próximos dias?
Nesta segunda-feira a queda foi muito intensa e chegamos perto de um circuit breaker, Para os próximos dias, aposto em uma correção dessas perdas, caso não haja novas notícias negativas. Mas quero dizer uma correção de exageros, não acho que a Bolsa vá engatar uma recuperação. E não podemos descartar que realmente ocorra um circuit breaker. Com essa perspectiva de baixo crescimento da economia norte-americana, e consequentemente, da economia mundial, a primeira coisa a ser atingida são as bolsas. O mercado de ações já vinha sentindo o clima pesado e é natural que nesta segunda-feira a reação de aversão ao risco por parte dos investidores tenha sido mais intensa. O rebaixamento da nota anunciado pela S&P deve comprometer o lucro das empresas. As perspectivas para o mundo corporativo nos próximos meses ficaram mais sombrias. Aqui no Brasil isso se reflete de forma clara no mercado de ações porque as empresas de commodities, as que mais sofrem em um momento como esse, têm grande peso na composição do Índice Bovespa. Estou falando de papéis como Petrobrás e Vale.
A crise vai afetar a exportação de commodities?
Sem dúvida. A demanda global deve cair, os mercados ficarão menores e os preços também devem recuar.
O Brasil foi uma das maiores apostas do mercado após a quebra do Lehman Brothers, no fim de 2008. O senhor acha que os investidores agora vão tirar recursos do Brasil para cobrir perdas em outros mercados?
Eu acho que o Brasil acaba sofrendo com a crise mundial. Mas a nossa economia tem condições de se sair muito bem agora, assim como se saiu em 2008. Nós temos reservas internacionais, uma situação fiscal razoável e há instrumentos monetários que podem ser usados no Brasil para compensar uma eventual queda da atividade econômica. Então eu acho que o Brasil pode se sair muito bem, mas é uma ilusão achar que estamos fora do contexto global. Nós vamos ser atingidos por uma certa redução da liquidez global. A economia brasileira vai sofrer uma redução de crescimento, mas não vai entrar em crise.
O senhor acha que os bancos vão reduzir o dinheiro disponível para empréstimos no Brasil?
Acredito que podemos ter um novo período de contração de crédito no Brasil, mas não como aconteceu no fim de 2008 e começo de 2009. Será uma contração mais moderada, que vai favorecer a política monetária brasileira ao ajudar a segurar a inflação.
Em momentos de crise as pessoas buscam proteção em ativos palpáveis. O senhor acha que irá aumentar a procura por investimentos como ouro, imóveis e terras agrícolas?
Eu acho que a renda variável sofre mais em momentos como esse, quando se espera menos crescimento. Mas não acho que haverá rali dos chamados investimentos reais. As pessoas provavelmente vão migrar para a renda fixa, de alta liquidez e segurança.
Como o senhor acha que o governo deve lidar com essa perspectiva de desaceleração da economia global?
O governo deve usar mais o instrumento monetário do que o instrumento fiscal, ou seja, deve mudar a receita do bolo. O Banco Central pode ser mais ousado na redução do juros.