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Brasil dará financiamento de US$ 10 bi ao FMI, diz Mantega

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estadao.com.br

Recursos serão repassados ao Fundo por meio de aquisição de bônus da instituição, segundo o ministro

Fábio Graner e Renata Veríssimo, da Agência Estado

BRASÍLIA-O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou nesta quarta-feira, 10,que o Brasil vai dar um financiamento de US$ 10 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI). De acordo com Mantega, os recursos serão repassados ao Fundo por meio de aquisição de bônus da instituição, que serão expressos em direitos especiais de saque, modelo que, segundo o ministro, existia antes e está sendo retomado agora.

Mantega explicou que o aporte será realizado assim que a diretoria do fundo concluir a emissão do bÔnus que será subscrito, não só pelo Brasil mas também pela China (US$ 50 bilhões), pela Rússia (US$ 10 bilhões) e pela Índia, que ainda não anunciou o valor do aporte. Ele destacou que, dessa forma, os Brics vão colaborar para reduzir a vulnerabilidade internacional.

Segundo o ministro, a emissão do bônus é, na verdade, uma aplicação financeira dos recursos das reservas internacionais brasileiras. Ele disse que a maior parte dos recursos das reservas estão aplicados em títulos do Tesouro norte-americano, que estão rendendo pouco. E, o restante, está alocado em outras aplicações sólidas, como esta que será feita com o FMI.

Mantega disse que a vantagem do financiamento ao FMI é que esses recursos ajudarão os países emergentes que estão com escassez de capital neste momento de crise.

Dólar

O ministro afirmou que a aplicação não é uma ação para enfraquecer o dólar, mas representa um reconhecimento da importância de outros ativos nas transações internacionais. "Não nos interessa enfraquecer o dólar porque isso significa valorização do real, o que prejudica as exportações", disse Mantega. "Não queremos enfraquecer o dólar, mas, sim, fortalecer os Direitos Especiais de Saque (do FMI)", reiterou.

O ministro explicou que esse montante de US$ 10 bilhões para a aquisição de bônus do FMI são adicionais a outro aporte de recursos, de cerca de US$ 4,5 bilhões, que o governo brasileiro se comprometeu a fazer, por ocasião da reunião do G-20. Assim, no total, o País deve colocar cerca de US$ 14,5 bilhões no Fundo.

Mantega lembrou que esses recursos que estão sendo colocados agora na instituição não mudam a participação do Brasil no fundo, cujo processo de revisão está sendo previsto para ser concluído em janeiro de 2011. O Brasil quer uma participação maior nas cotas do fundo para poder ter maior influência nas decisões da instituição.

Ele destacou que é a primeira vez que o Brasil emprestará recursos ao FMI. "O Brasil está encontrando condições de solidez para emprestar ao FMI. No passado, era o contrário", destacou Mantega, lembrando o período em que o Brasil teve de recorrer ao fundo para sair de outras crises.

O ministro destacou o fluxo de capital positivo no Brasil e o aumento das reservas internacionais. "Por isso, poderemos fazer essa transação com o FMI com tranquilidade", disse o ministro. Ele disse que esse é o segundo passo importante tomado pelo Brasil ao decidir tornar-se credor do FMI.

Mantega lembrou que o convite foi feito no ano passado e que o Brasil aceitou por ter solidez econômica e recursos suficientes para fazer esses aportes. "Esses aportes são importantes para ajudar a encurtar a crise", disse. Ele lembrou que alguns países estão reduzindo seus investimentos e o comércio exterior em função da retração econômica e por falta de recursos. Para Mantega, a ajuda brasileira poderá contribuir para a retomada do comércio mundial, com o que o Brasil também se beneficiará.

Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia adiantado o anúncio em entrevista à Reuters. "Ontem acertei com o ministro da Fazenda (Guido Mantega) 10 bilhões de dólares", disse Lula. "Esse dinheiro entra como empréstimo e o fato de entrar como empréstimo não diminui as nossas reservas. O Brasil não poderia ficar de fora (da contribuição ao FMI)", acrescentou.

Segundo Lula, isso dá ao Brasil "autoridade moral para continuar" reivindicando mudanças "que nós precisamos" no FMI e em organismos multilaterais.