Lula diz que crise foi causada por “brancos de olhos azuis” e cobra decisões no G20
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LORENNA RODRIGUES
da Folha Online, em Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quinta-feira que a crise financeira mundial foi causada por "gente branca de olhos azuis" e que não é justo que negros e índios paguem a conta da crise. "É uma crise causada por comportamentos irracionais de gente branca de olhos azuis, que antes da crise pareciam saber tudo e agora não sabem nada", afirmou, diante do primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, e da imprensa britânica –quase todos com perfil semelhante ao descrito pelo presidente.
Questionado por um jornalista inglês se estaria adotando uma postura ideológica no combate à crise, Lula negou e disse que estava apenas "constatando um fato". "Como eu não conheço nenhum banqueiro negro ou índio, eu só posso dizer que [não é possível] que essa parte da humanidade que é a mais vitima do mundo pague por uma crise. O que nós percebemos é que, mais uma vez, grande parte dos pobres do mundo são as primeiras vitimas", completou.
Lula citou ainda o preconceito de que os imigrantes são vítimas nos países desenvolvidos e que, segundo ele, tem sido agravado com a crise. Brown evitou entrar na polêmica e disse apenas que a crise bancária começou no sistema norte-americano e que o resto do mundo teve que lidar com os problemas.
Credibilidade
Lula e Brown defenderam a regulamentação do sistema financeiro para evitar que a crise se repita. Lula disse ainda que será necessário mexer nos paraísos fiscais e que "não será uma luta fácil". O presidente brasileiro cobrou decisões na próxima reunião do G20 (grupo que reúne representantes de países ricos e dos principais emergentes), no dia 2 de abril, em Londres.
"Se cometermos o erro de fazer uma reunião para marcar outra reunião, nós poderemos cair em descrédito e a crise afundar. Se a reunião de Londres não der um bom sinal de que definitivamente vamos começar a resolver o problema da regulação, o problema do crédito, certamente vamos passar ao mundo uma fraqueza política que não poderá existir", afirmou.
Lula disse ainda que o momento "é da política" e condenou a volta do protecionismo. Brown disse que os dois governantes concordaram que os países que não estão cumprindo as regras anti-protecionismo da OMC (Organização Mundial do Comércio) devem ser tornados públicos.