Enquanto a produção industrial caiu 14,5% em dezembro, a inflação acumulada em 12 meses passou de 6,3% a 5,8%
O Banco Central está preocupado com a lenta queda dos índices de inflação, desproporcional à forte retração da atividade econômica. Enquanto a produção industrial caiu 14,5% em dezembro, a inflação acumulada em 12 meses apresentou uma queda bastante suave, passando de 6,3% para 5,8% entre setembro e janeiro. Outros países que enfrentam forte contração da atividade econômica assistiram a um recuo muito mais intenso dos preços. Nos Estados Unidos, a produção industrial caiu 10% em dezembro, comparado ao mesmo mês do ano anterior, e a inflação em 12 meses passou de 4,9% para zero entre setembro e janeiro. Na União Europeia, a produção recuou 12% em dezembro, e a inflação encolheu de 3,6% para 1,1%.
O tema foi abordado em palestra recente do diretor de Política Monetária do Banco Central, Mário Torós, durante um seminário realizado em São Paulo. Ele apresentou dados sobre o comportamento da produção industrial e da inflação em 13 países desenvolvidos e emergentes a partir de setembro. Além do Brasil, também Rússia, Índia, Colômbia e México mostraram menor convergência entre a velocidade de queda da atividade econômica e a dos preços.
Na apresentação, o diretor do BC mostrou que a principal diferença entre um grupo de países e outro é a flexibilidade de preços. Aqueles com preços mais flexíveis, como Estados Unidos e os países da União Europeia, respondem mais rapidamente à desaceleração econômica. Em países com preços mais rígidos, caso do Brasil, os preços demoram mais para cair.
A apresentação de Torós faz parte de um esforço feito pela diretoria do BC para mostrar que, em meio à crise mundial, as economias não apresentam um padrão único de comportamento – por isso as respostas de política econômica, sobretudo medidas monetárias, não devem ter necessariamente a mesma direção e intensidade.
No Brasil, as estatísticas de produção, consumo e emprego mostram forte contração da atividade econômica, o que tem intensificado a pressão sobre o BC para que a política monetária convirja para os padrões dos países desenvolvidos – isto é, com cortes significativos nos juros básicos, que cairiam abaixo das taxas naturais para evitar uma queda mais acentuada da atividade econômica. O BC, por outro lado, tem insistido que, para uma queda maior dos juros, é necessário também que a inflação recue.