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Micro e pequenas empresas não estão demitindo, até o momento

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O segmento, que gera cerca de 60% dos empregos formais no País, não está demitindo, porque os efeitos da crise econômica mundial ainda não chegaram até ele

Vanessa Brito

Brasília – A crise financeira e econômica mundial só atingiu as grandes empresas e multinacionais no Brasil. Só elas estão demitindo até o momento. A cobertura da imprensa sobre os impactos da crise, tendo apenas as grandes empresas e determinados setores produtivos como referência, está provocando a redução do consumo. "A crise psicológica massificada é mais grave do que os efeitos da crise econômica, propriamente ditos", afirma o presidente da Confederação Nacional das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Comicro), José Tarcísio da Silva.

De acordo com ele, as micro e pequenas empresas continuam vendendo e faturando normalmente, sem provocar desemprego no País. "Elas continuam fora do noticiário sobre os efeitos da crise. É como se elas não existissem, apesar de sua grande importância na economia nacional. Elas são responsáveis por quase 60% dos empregos formais no Brasil".

Tarcísio avalia que a informalidade no País poderá cair a partir de julho próximo devido à instituição e entrada em vigor da nova pessoa jurídica Microempreendedor Individual (MEI). Porém, segundo ele, os resultados dependerão de ampla campanha de informações e esclarecimento, especialmente para a ponta. "As notícias sobre os efeitos da crise podem desestimular quem está na informalidade a querer se formalizar como MEI".

José Tarcísio da Silva foi entrevistado pela Agência Sebrae de Notícias sobre os efeitos da crise financeira e econômica mundial no grande segmento formado pelas micro e pequenas empresas (MPE). A Comicro foi criada no ano passado e está implantando um sistema representativo das MPE em todas as unidades da Federação.

ASN – Os efeitos da crise econômica mundial estão afetando os negócios das MPE?

Tarcísio – Essa crise não é das micro e pequenas empresas. Elas não investem em bolsas de valores, nem no mercado de risco. Quando as MPE ampliam seus negócios significa que estão aumentando espaço físico, diversificando mercadorias, aprimorando serviços, etc., por meio do esforço próprio e do reinvestimento de seus lucros nos negócios. Até o momento, as MPE não estão demitindo, estão mantendo os funcionários. Elas geram quase 60% dos empregos formais do País. No segundo semestre, as MPE serão impactadas, porque no momento em que os efeitos da crise se alastram, o consumidor reduz as compras. Se não houver nenhuma medida de proteção ao nosso segmento por parte do governo, como ocorre com os bancos, montadoras e outros setores formados por grandes empresas, as MPE vão sofrer.

ASN – Como o governo poderia proteger as MPE dos efeitos da crise?

Tarcísio – Seria necessário que o governo criasse um pacote específico para o segmento. Bancos e grandes empresas têm socorro do governo por meio de medidas específicas para eles. Normalmente as MPE empregam a mão-de-obra menos qualificada, inclusive a que é demitida pelas grandes empresas. Lembramos que o País possui grande informalidade, apesar da aprovação do MEI, que entrará em vigor em julho.

ASN – Concorda que a aprovação do MEI foi um grande passo para reduzir a informalidade?

Tarcísio – A implantação do MEI pode ser revolucionária. Segundo dados do IBGE de 2003, existiam 10,5 milhões de informais no País. Quer dizer, hoje devem ser em torno de 15 milhões de negócios informais. Nunca mais fizeram estatísticas a respeito. Para que o MEI seja uma revolução, ou seja, traga milhões de informais para a formalidade, é preciso que haja confiança por parte daquele que está na informalidade. Ele sabe que está fora da lei. Precisamos que nossas instituições esclareçam mais as vantagens e desvantagens de se tornar MEI. Na minha opinião, tem mais vantagens. Quem está na ponta e só vê notícias sobre a crise, fiscalizações, custos etc., pode ficar desanimado. É muita incerteza no ar. Os informais são pessoas com um pé atrás. É preciso levar informação e esclarecimento a respeito do MEI para a ponta, especialmente neste momento. Estimamos que pode haver ingresso de até 15% de informais na formalidade por meio do MEI. Mas os resultados vão depender do trabalho de divulgação sobre o que é o MEI, nos primeiros doze a dezoito meses (a lei está em vigor desde janeiro de 2009; o capítulo do MEI começa a valer em julho próximo).

ASN: A redução da taxa Selic foi uma boa notícia para as micro e pequenas empresas?

Tarcísio – Ainda não chegou na ponta. Os bancos não estão diminuindo os juros na ponta. Os spreads continuam muito altos. Se os bancos não baixarem o spread bancário e o governo não tomar outras medidas que venham beneficiar o segmento, a exemplo do que vem fazendo para multinacionais e grandes empresas, as MPE serão atingidas em cheio. Repito: as micro e pequenas empresas não estão desempregando. A crise psicológica massificada nos atinge muito.

ASN: O que quer dizer com crise psicológica massificada?

Tarcísio – Quero dizer que está havendo uma lavagem cerebral pela mídia. É um erro fatal a imprensa não conversar com as micro e pequenas empresas. Só falam com setores que investem no jogo do capital especulativo. O consumidor assiste a telejornais e fica na dúvida. A grande mídia não ouve nosso segmento. É como se a gente não existisse. E somos o sustentáculo da economia do País. O próprio governo deveria ouvir mais as MPE. O Conselhão (Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) só conta com representação das grandes empresas. Nós não estamos representados lá. Só convidaram as MPE uma vez para participar do Conselhão, mas convidaram uma entidade de São Paulo. O Brasil não é São Paulo. Somos 26 estados e a capital federal. Somos um segmento muito importante, mas precisamos ter mais atenção e reconhecimento do governo e da mídia.

ASN – Quanto custaria ao governo o socorro às micro e pequenas empresas? É possível calcular isso?

Tarcísio – Não custaria os milhões que estão sendo gastos no socorro às grandes empresas. O socorro às MPE custaria muito mais barato do que às grandes. O custo da MPE é entre 12 a 20 vezes menor do que uma grande empresa. Reconhecemos as vantagens da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa e do Supersimples (Simples Nacional), foram avanços, mas precisamos de mais atenção e reconhecimento, inclusive de mais inclusão na economia e nos fóruns que debatem o desenvolvimento do País.

ASN – Crise nas grandes empresas necessariamente se transforma em crise na pequenas?

Tarcísio – A crise psicológica é a mais pesada de todas, pois mete medo no consumidor. As notícias sobre a crise é que estão tirando o dinheiro de circulação. Nos meus dois negócios, não temos crise. Trabalho no varejo há 30 anos em Recife. Tenho um mercadinho e uma loja de confecção em bairros da cidade. Até agora, insisto, não existe crise nas MPE. Só as grandes empresas estão demitindo. Crise é para os grandes empresários, para quem tem investimentos nas bolsas e no capital de risco. Empresários de pequeno porte não contam com o governo para socorrê-los. A choradeira é dos grandes, mas influencia todo o mercado. No mercado livre, a MPE não depende exclusivamente das grandes empresas. Agora, se há monopólio ou cartel no fornecimento de determinado produto, não tem jeito: as MPE acabam sendo atingidas. Mas se não existe cartel, as MPE correm para outros fornecedores. Se existissem centenas de bancos e instituições de microcrédito no País, certamente as taxas de juros seriam menores.

ASN – Existem muitos setores que dependem do fornecimento de produtos via monopólios?

Tarcísio – Ainda há determinados produtos que são fornecidos por poucas empresas, como ferro e derivados do petróleo. No setor de alimentação é o contrário, as MPE não têm problema, porque há um mundo de fornecedores. A crise dos grandes acaba contaminando todo o mercado. Se os grandes diminuem a produção, por exemplo, vai faltar produto no mercado. Ou quando voltarem a produzir, o preço estará mais alto. Pode ser uma estratégia: tem indústria que interrompe a produção para reajustar preços e lucrar mais, depois da crise. Observe esses carros que estão sendo vendidos nas promoções, hoje. Vamos ver o preço deles daqui a um ano.

ASN – Qual é seu recado para o empresário de pequenas empresas?

Tarcísio – Continue otimista. Reinvista cada centavo no seu negócio. Todo recurso nosso é para melhorar nossos negócios. A nossa diferença está na qualidade do serviço que prestamos e na satisfação do cliente. Meu conselho para os companheiros é o seguinte: desliga a televisão e vá trabalhar e buscar clientes. Em época de dificuldades é que se realizam grandes negócios. Crise reforça a nossa criatividade e nossas estratégias. Se ela chegar às micro e pequenas empresas, lembre que crise também passa.

Serviço:
Agência Sebrae de Notícias – (61) 3348-7138 e 2107-9362 www.agenciasebrae.com.br
Confederação Nacional das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte – (81) 3222-1985
www.comicro.org.br