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Contra crise, BC anuncia linha de crédito em dólares e amplia linha do BNDES

Publicado em:

Folha Online

EDUARDO CUCOLO
LORENNA RODRIGUES
da Folha Online, em Brasília

Atualizada às 16h52

Contra a falta de dinheiro no mercado causada pela crise financeira nos Estados Unidos, o governo vai utilizar parte do dinheiro das reservas internacionais para garantir crédito em dólares para os exportadores brasileiros e ajudar a diminuir a pressão sobre o câmbio. Também foi anunciado o aumento de uma linha de financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para financiar as exportações.

As medidas foram anunciadas hoje pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, após o dólar romper o patamar de R$ 2,15 e a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) ter o pregão interrompido duas vezes, por causa de quedas no Ibovespa que superaram os 10% e os 15%.

A primeira medida vai funcionar como um empréstimo em dólares. O BC irá comprar títulos dos bancos no exterior, que serão pagos com o dinheiro das reservas. Haverá, no entanto, um contrato de recompra dos mesmos dólares. Esse mecanismo vai funcionar, assim, como um empréstimo de moeda norte-americana.

A garantia para o empréstimo serão os títulos oferecidos pelos bancos, que terão de ser papéis de primeira qualidade, como emissões feitas pelo governo do Brasil.

"É uma linha de crédito em dólares adicional no exterior com o uso das reservas. Será uma compra de títulos pelo Banco Central, portanto venda de títulos de bancos privados no exterior, com um contrato de recompra", afirmou Meirelles.

O BC só anunciará o volume de dinheiro que será liberado no momento das operações, que serão feitas por meio de leilões. Os detalhes serão divulgados amanhã.

Segundo Meirelles, esse é um "uso inteligente das reservas internacionais do Brasil", já que os dólares não serão vendidos, mas emprestados aos bancos. Dessa forma, será possível manter o nível atual das reservas internacionais, que superam os US$ 200 bilhões.

"Estamos procurando manter as reservas em seu patamar elevado. É uma orientação do presidente que nós temos cumprindo", disse Mantega, ao explicar que as reservas serão usadas de forma inteligente para financiar o comércio exterior.

"Vamos disponibilizar parte de reservas para banco brasileiros que vão financiar o comércio exterior. É só uma mudança de aplicação", definiu o ministro. Segundo ele, o dinheiro será tirado de um banco internacional e colocado em um banco brasileiro, o que manterá o no nível das reservas e, ao mesmo tempo, "irrigará o sistema bancário".

BNDES

A outra medida é o aumento da linha de financiamento pré-embarque do BNDES, que terá mais R$ 5 bilhões (cerca de US$ 2,5 bilhões). Os recursos vão sair do caixa do governo.

Essa linha financia a produção do bem que vai ser exportado. Em 2008, para as linhas de financiamento para o comércio-exterior (pré e pós-embarque), o BNDES tem no orçamento US$ 5 bilhões. De janeiro a agosto já foram desembolsados US$ 3,4 bilhões.

Guido Mantega afirmou que o aumento da linha deve ser aprovado na reunião de amanhã do banco estatal. "O BNDES vai ampliar a linha de financiamento do pré-embarque, que é uma linha de financiamento ao comércio exterior. Vamos dar um reforço para as linhas deles", afirmou o ministro da Fazenda.

Pânico

Sobre as fortes quedas registradas hoje na Bovespa e a disparada do dólar, que fechou cotado a R$ 2,19 para venda, Mantega disse que refletem um "momento de irracionalidade" do mercado financeiro. Segundo Mantega, o nervosismo dos mercados internacionais se deve ao fato de que o pacote de ajuda americana ainda não foi colocado em prática. Além disso, houve piora na situação da economia européia.

"Essa situação é passageira. Nós estamos no momento mais agudo dessa crise. Ela tem mais de um ano, mas se aprofundou nesse momento, que é quando se revelam os ativos podres dessas empresas", afirmou. O ministro voltou a destacar que o Brasil, apesar de afetado, será menos impactado.

"Não temos problemas de solvência no Brasil. Aqui não há ativos podres, embora estejamos sofrendo um problema de liquidez por causa desse estrangulamento no crédito internacional. E o governo está tomando as medidas adequadas para garantir que essa liquidez continue fluindo."

Sobre a falta de dinheiro em linhas internacionais, o ministro destacou que o BC e o governo já tomam as "medidas adequadas" para manter o "nível ideal" de crédito no mercado, como alterações nos depósitos compulsórios, leilões de dólar e antecipação de crédito para o setor rural.