Petróleo: novas reservas devem levar Brasil a salto no setor
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Luciene Braga
As reservas gigantes recém-descobertas pela Petrobras – Tupi, Carioca, Júpiter e Bem-te-vi – vão alçar a empresa à condição de maior companhia do mundo no setor. Segundo especialistas, a reivindicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), de que o Brasil terá uma cadeira entre os grandes, faz muito sentido: em cinco a 10 anos, quando essas reservas estiverem sendo exploradas, o País vai figurar entre os maiores exportadores mundiais.
Há alguns anos, seria difícil acreditar na viabilidade comercial desses campos por conta da necessidade de fazer investimentos pesados. Com a alta na cotação do petróleo – que tem estimativas de terminar o ano no patamar de US$ 200 -, esses recursos serão compensados e vão garantir à Petrobras a liderança na tecnologia de extrair petróleo da camada do pré-sal, a até quase 7 km de profundidade.
Tupi e Júpiter aparecem nas estatísticas internacionais entre as mais importantes descobertas de petróleo e gás dos últimos 10 anos. Cada um deles tem reserva estimada de 6 bilhões a 8 bilhões de barris. A Petrobras já confirmou outra descoberta em águas ultra-profundas, nos campos de Carioca e Guará, mas ainda não forneceu o volume.
Professor de finanças do Ibmec, Gilberto Braga acredita que os megacampos serão responsáveis pela reconfiguração da posição do Brasil: "Carioca seria cinco vezes maior que Tupi e Júpiter. Há dois anos, o preço do barril era de US$ 65 e a comercialidade era discutível. Esse quadro mudou, e a Petrobras, pioneira na exploração em águas profundas, tem tudo para se tornar a maior do mundo", afirmou.
Segundo Braga, cada campo deverá abrir, em média, 14 mil vagas, gerando 60 mil para os projetos em novos campos, sem contar as descobertas fora da nova província petrolífera.
Explorar petróleo nessas condições é desafio, como define o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli. "O pré-sal é uma área de excelentes condições exploratórias, que vai exigir investimentos gigantescos, mas deverá modificar qualitativamente o Brasil no mercado internacional", confirma. Entre os desafios, está a exigência de ações especiais, resistentes à corrosão, e o desenvolvimento de novos materiais e equipamentos.
"O grande potencial de produção dos reservatórios descobertos pela Petrobras e as vantagens da empresa em relação aos seus concorrentes demonstram a importância do momento atual", diz. Entre as vantagens, Gabrielli destaca a proximidade das áreas de produção, refino e mercado consumidor.
As descobertas no pré-sal estão em frente aos Estados com a maior capacidade de refino e os maiores mercados: Rio e São Paulo. A produção diária de barris, hoje de 2 milhões, tem potencial para subir para 3,5 milhões até 2015, e poderá atingir, com o pré-sal, 4 milhões.
A expectativa é tão grande em torno do pré-sal que há movimentos no governo para criar empresa estatal para administrar a exploração das novas reservas. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, é um deles. Mas a idéia enfrenta resistências de especialistas, que atribuem à Petrobras a responsabilidade pelas descobertas e pelo domínio das novas tecnologias.