Um canal livre de impostos
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Graças a uma política radical de incentivos fiscais, o Panamá torna-se um pólo de investimentos estrangeiros. Hoje, nenhum outro país cresce tanto na América Latina
Por Tatiana Gianini
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Ainda que governos como o de Hugo Chávez, na Venezuela, façam muito barulho na América Latina com seu petropopulismo e bravatas contra os Estados Unidos e a tentativa de implantação de um novo tipo de socialismo, seja lá o que isso possa significar, o fato é que estão evoluindo na região os países que adotaram uma fórmula econômica pragmática e de sucesso previamente comprovado. Seus principais pontos são estabilidade política, carga fiscal reduzida e burocracia mínima para a criação de novos negócios. Hoje, nenhum outro país da América Latina vem aplicando essa fórmula de forma tão radical e bem-sucedida quanto o Panamá. Um dos destinos menos charmosos do Caribe, o país era conhecido até a década de 90 pelo monumental canal que liga os oceanos Pacífico e Atlântico. Agora, vem chamando a atenção por suas taxas de crescimento e pela capacidade de atrair multinacionais. Entre 2003 e 2007, o volume de investimentos estrangeiros no Panamá aumentou 136%, chegando a 1,8 bilhão de dólares. Graças em parte a isso, nos últimos quatro anos o PIB do país tem crescido a uma média anual de quase 9% (em 2007, o Panamá registrou expansão de 11,2%, a melhor marca do país desde os anos 80).
Nos últimos meses, várias corporações estrangeiras elegeram o país como o mais adequado para receber novos investimentos na América Latina. Uma delas foi a americana Caterpillar, que anunciou, em outubro passado, a construção no Panamá de um complexo que inclui um centro logístico de distribuição de equipamentos pesados, o primeiro do gênero da empresa na região. A unidade vai consumir investimentos de 25 milhões de dólares. No início de maio, a HP começou no Panamá o processo de contratação de cerca de 1 000 funcionários. A equipe formada por eles será encarregada de tocar os negócios do novo centro de serviços globais da HP, que deve começar a operar em setembro de 2008. Por fim, a Procter & Gamble, gigante da área de bens de consumo, escolheu o país para construir seu quarto centro de negócios na América Latina (os outros três ficam na Venezuela, no Chile e na Costa Rica). “O Panamá tem um amplo sistema de benefícios para escritórios regionais, além de uma posição geográfica que nos aproxima de mercados importantes, como o México”, afirma Alejandra Cobb, gerente de relações corporativas da P&G.
É inegável que a posição geográfica do Panamá lhe dá uma vantagem incomparável em tempos de aprofundamento do comércio global. O país está próximo dos Estados Unidos e da Europa, é banhado pelos dois maiores oceanos e detém o controle do canal que os liga. Tudo isso faz do Panamá uma espécie de entreposto moderno. Mas essa é parte da explicação do crescimento. Um dos principais fatores que vêm motivando decisões como as de Caterpillar, HP e P&G foi uma mudança na lei que rege as atividades das multinacionais no Panamá. Segundo a nova legislação, aprovada em agosto, as empresas que instalarem suas sedes regionais no país estarão isentas do pagamento de imposto de renda. Além disso, o governo criou uma comissão que torna mais ágil o trâmite de vistos para os funcionários estrangeiros. “O país está se convertendo em um importante centro de logística do continente”, afirma Martín Castillo, gerente-geral da HP na América Central e no Caribe. A regra das multinacionais reforçou o pacote de medidas aprovadas nos últimos anos que seguem na mesma direção — ou seja, a de facilitar o ingresso de investimentos no país. O setor de imóveis, por exemplo, é beneficiado com a isenção de impostos sobre a propriedade, conhecido no Brasil como IPTU, em toda nova construção residencial ou comercial durante até 15 anos. E aposentados e pensionistas que desejam morar no país, caso de muitos americanos e europeus em busca de um destino agradável, mas não tão caro quanto Miami ou outros países do Caribe, estão isentos do pagamento de tributos de importação.