Em um ano, 14 milhões de brasileiros passaram a conviver com a fome
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O TEMPO
No fim de 2020, 19,1 milhões de brasileiros não tinham o que comer; em 2022, o número saltou para 33,1 milhões
Milhões de pessoas convivem cotidianamente com a fome no Brasil. Em muitos lares, as pessoas não têm acesso à alimentação em quantidade e qualidade adequada.
Dados do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, divulgados nesta quarta-feira (8) pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), mostram números preocupantes.
A pesquisa revelou que no intervalo de um ano, 14 milhões de brasileiros passaram a conviver com a fome em suas casas. No fim de 2020, 19,1 milhões de brasileiros estavam em situação de fome. Já, em 2022, são 33,1 milhões de pessoas sem ter o que comer.
Retrocesso histórico
Segundo o estudo, o Brasil já foi referência internacional no combate à fome. Entre 2004 e 2013, políticas públicas de erradicação da pobreza e da miséria reduziram a fome para menos da metade do índice inicial: de 9,5% para 4,2% dos lares brasileiros.
Se a pesquisa anterior mostrava que, no final de 2020, a fome havia retornado aos patamares de 2004, em 2022 a realidade é ainda pior. De 9% dos domicílios com moradores passando fome, saltamos para 15,5% — 33,1 milhões de brasileiros.
Desde a Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2018 (POF-IBGE), muitas famílias migraram dos níveis de menor gravidade de insegurança alimentar para os de maior gravidade.
“É uma trajetória que mostra que o direito humano à alimentação adequada vem sendo sistematicamente violado, provocando uma tragédia no presente e impactando o futuro da população brasileira,” revela o inquérito.
“A pandemia surge neste contexto de aumento da pobreza e da miséria, e traz ainda mais desamparo e sofrimento. Os caminhos escolhidos para a política econômica e a gestão inconsequente da pandemia só poderiam levar ao aumento ainda mais escandaloso da desigualdade social e da fome no nosso país”, aponta Ana Maria Segall, médica epidemiologista e pesquisadora da Rede PENSSAN.
Em 2021/2022, cerca de 125,2 milhões de brasileiros não tinham certeza se teriam o que comer no futuro próximo, limitando a qualidade ou quantidade de alimentos para as refeições diárias — um aumento de 7,2% em relação a 2020. Se compararmos com dados de 2018 (última estimativa nacional antes da pandemia de Covid-19), quando a insegurança alimentar atingia 36,7% dos lares brasileiros, o aumento chega a 60%.