O caminho para se garantir no mercado: estudar sempre
Publicado em:
A carreira de contabilista abre um amplo e crescente leque de oportunidades de trabalho, mas cada vez mais é preciso voltar aos bancos escolares para se manter atualizado e assegurar espaço no mercado. No entanto, não são apenas os contabilistas que freqüentam os cursos técnicos de contabilidade, superiores de Ciências Contábeis, mestrados, doutorados e Master of Business Administration (MBAs) direcionados a esses profissionais. Eles dividem as salas de aula também – às vezes, principalmente – com graduados em outras áreas, como economia, direito, administração e até mesmo nutrição e engenharia, que estão em busca de melhores cargos e salários.
A demanda por contadores e profissionais que compreendam os códigos e normas contábeis se multiplica no mesmo ritmo da globalização da economia e do conseqüente aumento da complexidade das regras do mundo dos negócios. “Toda a movimentação das empresas se reflete em trabalho para os contabilistas, desde a abertura de capital a novos investimentos, expansão para o Exterior, fusões”, lembra Sílvia Mara Leite Cavalcante, vice-presidente do Conselho Federal de Contabilidade (CFC).
A próxima onda em qualificação – já no horizonte – relaciona-se à necessidade de especialização em normas internacionais de contabilidade e auditoria, pois as instituições financeiras e companhias de capital aberto terão de apresentar seus balanços e demonstrativos em linguagem universal a partir de 2010. Assim, a oferta de cursos de todos os níveis só aumenta. Até poucos anos atrás, apenas a Universidade de São Paulo (USP) mantinha curso de doutorado em Ciências Contábeis, hoje oferecido também na Universidade de Brasília (UNB). A oferta em pós-graduação, mestrado e extensão já é farta em todo o País. E o interesse pelo bacharelado também cresce: atualmente, cada vaga das doze turmas anuais de Ciências Contábeis da Faculdade de Economia e Administração (FEA), da USP, é disputada por dez candidatos, em média (para Economia, a relação é 13 candidatos/vaga e Administração, em torno de 18). “Está havendo uma corrida por bons profissionais nessa área”, afirma Valmor Slomski, coordenador do Departamento de Contabilidade Atuária da FEA.
Para atender a essa demanda, a Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) vem criando uma nova turma por ano desse curso, de oito semestres de duração, e já forma 120 contadores anualmente. “A contabilidade andou em declínio, mas ascende agora porque as empresas estão requisitando profissionais mais completos, e estes têm de se moldar ao mercado”, diz José Heleno Mariano, presidente do Sindicato dos Contabilistas de São Paulo (Sindcont) e vice-coordenador do curso de Ciências Contábeis da universidade católica paulista.
Gestão
Somente a Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), órgão de apoio do Departamento de Contabilidade Atuária da FEA-USP, mantém 16 cursos de MBA direcionados a contadores (confira relação, abaixo), cada um com 30 vagas. Grande parte dos alunos é graduada em outros cursos, e não apenas Ciências Contábeis, segundo Valmor Slomski. Todos querem entender melhor do assunto que pode determinar o sucesso ou o fracasso de um negócio. “Antes, a contabilidade não era percebida como instrumento de gestão. Com o aumento da concorrência entre as empresas, a área se valorizou, pois sai na frente quem tem mais e melhores informações”, diz Mariano, do Sindcont.
Mas a tendência de formações cada vez mais ecléticas é geral: “Hoje, apenas 10% dos formados em qualquer área seguem a carreira. Os demais fazem cursos de especialização e ingressam em outros campos ou mesmo no serviço público”, lembra Slomski, da FEA: “Há apenas em torno de 200 mil contadores (aqueles que têm formação superior) com registro no Conselho Federal de Contabilidade (CFC), mas as faculdades formam milhares de profissionais todos os anos: “Somente os que vão de fato exercer a profissão pedem o registro”.
á os contabilistas, além de seguirem atentamente os rumos da legislação, têm de ficar atentos à evolução tecnológica e passar a preocupar-se menos com a área fiscal e mais com a oferta de instrumentos de gestão à clientela. Ou poderão vir a ficar sem trabalho, segundo Sérgio Prado de Mello, presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo (CRC): “Os grandes escritórios estão percebendo isso, mas os pequenos ainda não. Estamos fazendo campanhas para conscientizá-los dessa necessidade. Chegará o momento em que o governo terá os dados fiscais quase automaticamente”.
Rumos
Formado em Ciências Contábeis há seis anos, Marcel de Castro Lima, de 32, freqüenta as aulas do terceiro semestre do MBA de Auditoria interna da Fipecafi (da FEA-USP) às segundas, quartas e sextas-feiras, das 18h30 às 22h30. Mas a maior parte de seus colegas de sala têm outro tipo de formação. Ele explica que ser graduado em contabilidade é recomendável, mas não obrigatório, para exercer cargo em auditoria, área em que atua e está se especializando: “As empresas procuram profissionais com certo perfil, não apenas com determinada formação”.
E qual seria esse perfil? Segundo Lima, o auditor tem de ser acima de tudo crítico, calmo, detalhista e, para moldar t ais características, as empresas têm promovido treinamentos intensivos, dinâmicas, e ensinado até mesmo técnicas de entrevista para que o futuro auditor aprenda a inquirir as fontes de informação com eficácia.
Lima graduou-se aos 25 anos e trabalha na área desde os 22, contrariando as expectativas do pai, também contador: “Pesquisei o mercado de trabalho e conclui que essa é uma área com alta oferta de emprego”, explica ele, que foi contador e auditor externo e hoje é auditor sênior do Unibanco. Assim que concluir o MBA, Lima poderá ter uma promoção. Almeja o cargo de coordenador, cujo salário é 15% superior ao que ele recebe hoje.
A expectativa do estudante é conquistar visão mais abrangente do negócio banco, pois o curso aborda gestão de instituições financeiras. No Unibanco, ele atua em auditoria na área de crédito, avaliando os riscos das operações de sde a solicitação até a liberação dos recursos ao cliente: “Analisamos os riscos e os controles de que a empresa dispõe para evitá-los”.
Mestres
O aumento da procura por graduação em Ciências Contábeis se reflete também na expansão da demanda por mestres na área, outra opção na área. Douglas Tavares Borges Leal, de 23 anos, trabalhou num escritório contábil e fez estágio na própria Faculdade de Administração e Economia (FEA), da USP, onde se formou bacharel em 2006, participando de projetos como o da edição de Melhores & Maiores, da revista Exame, como processador técnico das entrevistas. Acabou assumindo uma monitoria em graduação e pós e, no ano passado, começou a atuar no Congresso de Controladoria e Contabilidade da universidade.
Em agosto, ele começa a dar aulas no curso de administração recém-inaugurado na Faculdade Paschoal Dantas, em Itaquera, Zona Leste da Capital: “Todos os novos cursos de administração incluem a disciplina contabilidade”, afirma Leal, que já tinha experiência como professor de alfabetização de jovens e adultos. “A carreira de docente tem vantagens, como flexibilidade de horários e dinâmicas mais interessantes, mas os salários são bem mais baixos”.
Para Leal, as faculdades hoje estão carentes de professores com experiência em empresas: “Aprendi muito durante o ano em que trabalhei em escritório de contabilidade, onde se lida com a realidade das empresas. E acho que ainda me falta experiência nesse sentido. Atualmente ocorre um fenômeno inverso ao de anos anteriores – as faculdades tinham no corpo docente excelentes profissionais de contabilidade, mas com falhas em didática, ou seja, ruins como professores. Agora, os docentes têm ótima formação teórica, mas lhes falta conhecimento prático do dia-a-dia das empresas”.
A contabilidade em alta
• Na FEA-USP, a relação candidato/vaga para Ciências Contábeis é 10 para 1.
• Desde 2005, a PUC-SP cria uma nova turma anual. Atualmente forma 120 contadores/ano.
• Grande parte dos estudantes de Ciências contábeis já é graduada em outras áreas.
• Nos curso de MBA relacionados a contabilidade também predominam profissionais de outras áreas.
Os MBAs da Fipecafi-USP
• Administração pública
• Finanças pessoais
• Auditoria Interna para instituições financeiras
• Banking (bancos)
• Contabilidade
• Controladoria e governança do terceiro setor
• Controles internos e compliance
• Controller
• Finanças e comunicação com investidores
• Gestão e seguros de previdência
• Gestão e tecnologia da informação
• Gestão de finanças e riscos
• Gestão tributária
• Mercadologia de negócios financeiros
• Mercado de capitais
• Logística
(CD)