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Lula: Quem tem medo de CPMF sonega

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Na blitz pela CPMF, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusou ontem de sonegadores os oponentes do seu governo e do tributo pelo qual tanto clama e quer ver aprovado no Senado. Ele atribuiu "vaidades pessoais e interesses menores" aos opositores. Lula chamou publicamente para o confronto o DEM, ao qual se referiu pelo nome antigo da legenda, o PFL. "Quem quer acabar com a CPMF? É o PFL, que torce todo santo dia para as coisas não darem certo nesse País, porque eles governaram durante 500 anos e não conseguiram fazer o que o País queria que fosse feito."

Em Colatina, no Espírito Santo, onde inaugurou de manhã uma ponte de 700 metros sobre o rio Doce e um trecho de oito quilômetros da BR-259 – obra iniciada há 21 anos e que consumiu R$ 95,3 milhões dos cofres públicos –, o presidente desafiou seus rivais.

Em 2008, a CPMF poderá garantir uma arrecadação de cerca de R$ 40 bilhões que, segundo as palavras de Lula, terão três destinações, uma delas ligada a um programa que o presidente venera. "O dinheiro da CPMF é para Saúde, para a aposentadoria de trabalhador rural e para o Bolsa-Família", declarou. "É para isso que serve a CPMF."

SONEGADORES

O presidente acusou sem apontar nomes, mas seu recado foi claramente para os políticos que fustigam a CPMF: "Eles agora ficam com discurso que é muito imposto. Na verdade, quem tem medo da CPMF é quem sonega imposto. Eles é que têm medo da CPMF, porque é o imposto que vai detectar quem é que está sonegando."

No palanque de Colatina, que também alojou dois senadores do Espírito Santo, Renato Casagrande (PT) e Gérson Camata (PMDB), o governador Paulo Hartung (PMDB), o sanfoneiro Zé do Brejo e o prefeito Guerino Balestrassi (PSB) – que a Lula presenteou com um blusão verde-musgo em caixa com laçarote –, o presidente conclamou o Senado a votar logo a prorrogação do imposto. "O Senado vai tomar uma decisão. Eu tenho a convicção que eles (senadores) vão fazer, que eles vão votar."

Na linha de seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, que ameaça com aumento de impostos e cortes de verbas de programas sociais, o presidente condicionou a expansão e modernização da rede pública de Saúde e a do ensino à manutenção do imposto do cheque.

"Eu tenho a convicção que a aprovação da CPMF vai permitir a gente voltar a esse Estado, inaugurar as escolas, inaugurar hospital, melhorar a Saúde, a Educação, e a gente vai poder devolver ao povo brasileiro o orgulho que nós nunca deveríamos ter perdido, o orgulho de sermos brasileiros com bê maiúsculo."

INDIRETAS

O presidente Lula fez alusão a José Serra (PSDB), mas não citou seu nome, quando cobrou enfaticamente parceria e colaboração dos governadores – não apenas para o duelo que trava pelo imposto criado pelos tucanos, como também para fazer avançar outras iniciativas suas. "Estamos pensando em fazer o que deveria ter sido feito há 20 anos ou há 30 anos.

E é muito mais fácil a gente trabalhar sendo presidente da República, com um governador que é parceiro, e com deputados e senadores que são parceiros preocupados até na apresentação das suas emendas para obras importantes ao Estado, do que a gente trabalhar com um governador que não quer conversa com o presidente, com deputado que não quer conversa com o presidente, pessoas que muitas vezes não estão dispostas a sentar para discutir."

Suando muito dentro de um terno escuro, Lula apontou sua ira para o PSDB e citou duas vezes o nome de seu antecessor e rival, Fernando Henrique Cardoso, a quem imputou descaso e omissão, principalmente para com os capixabas.

FHC

"Tivemos aqui um governador do PT, o Vitor Buaiz, meu grande companheiro, que comeu nesse Estado o pão que o diabo amassou. O Vitor vivia em Brasília, acreditando que o presidente Fernando Henrique Cardoso iria ajudá-lo e não ajudou. O Vitor não tinha dinheiro para pagar salário de funcionário, não tinha dinheiro para pagar o remédio gratuito, não tinha dinheiro para fazer as coisas e vivia acreditando que o Fernando Henrique ia ajudar e não ajudou. E eu pensei que não ajudava porque era do PT. Depois, veio o José Inácio (ex-governador), que eu nem sei o que é que faz hoje, e o Espírito Santo faliu, o Estado quebrou. É a verdade."

Em busca de apoio à sua cruzada pela CPMF, o presidente elogiou bastante o governador do Espírito Santo e retomou o libelo contra aqueles que no Senado barram a votação da contribuição. "A parceria só é possível quando dois cidadãos, mesmo em cargos e esferas diferentes, são despojados de vaidades pessoais, de interesses menores, e começam a pensar o que é que a gente pode deixar de benefícios para o povo. Aí a gente pode fazer muito mais. Em vez de ficar procurando motivos para divergir, nós dois (ele e Hartung) procuramos motivos para convergir, o que o Brasil precisa do Espírito Santo e o que o Espírito Santo precisa do Brasil."

Ao falar de um Brasil que, segundo ele, "está arrumado", o presidente não perdeu a oportunidade para fazer propaganda do seu principal projeto de segundo mandato, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), "coisa jamais vista", e até previu boas festas para os brasileiros que o ouviam, cerca de 500 colatinenses. "Estou convencido que este será o melhor Natal que esse País vai ter depois de décadas e décadas de desesperanças do povo."

PALANQUE

Mais tarde o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, pediu taxativamente, no palanque em Vitória, que os senadores do Espírito Santo empenhem-se mais pela aprovação da CPMF. No helicóptero que levou o presidente Lula da capital capixaba a Colatina, no Vale do Rio Doce (ES), o petista foi acompanhado de Nascimento, que virou um grande cabo eleitoral da CPMF.

"Como os nossos três senadores (do Espírito Santo) votam favoravelmente à CPMF (Renato Casagrande do PT; Gerson Camata do PMDB e Magno Malta do PR) quero pedir a eles que façam um trabalho de convencimento no Senado porque, infelizmente, a oposição, mais claramente o PFL (atual DEM), está transformando o interesse da população numa pendenga política, numa picuinha política. Nós, senadores sérios, não podemos permitir que a população pague por isso."

O ministro dos Transportes também convocou Paulo Hartung a fechar aliança com Lula no embate da contribuição. E anunciou ter acertado com o governador do Espírito Santo e toda a bancada parlamentar capixaba uma blitz pelo tributo em Brasília, na próxima semana.

"Toda a bancada unida e o governador para um esforço concentrado no sentido de convencer aqueles senadores que ainda têm dúvidas, e que são sérios, a votarem a favor da CPMF. Que Deus nos ajude e ilumine a cabeça daqueles senadores." ( AE )