‘Não é só a retomada da confiança que vai resolver’, diz economista sobre a crise brasileira em reunião na Fiesp
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A crise econômica brasileira e a nossa fragilidade financeira estiveram na pauta da reunião do Conselho Superior de Economia (Cosec) da Fiesp, na manhã desta segunda-feira (10/12), na sede da federação, na capital paulista. O professor do Departamento de Economia da Hobart and William Smith Colleges de Nova Iorque, nos Estados Unidos, Felipe Rezende, foi o convidado para falar sobre os temas. O encontro foi coordenado pelo diretor titular do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) da Fiesp e vice-presidente do Cosec, Paulo Francini.
Para Rezende, os elementos de fragilidade da economia brasileira são visíveis desde 2007. E que, desde 2011, foram observadas mais flutuações do investimento e do PIB, com o fim de um ciclo de alta nas nossas commodities.
“Tivemos uma transferência negativa líquida de recursos, com lucros saindo da economia brasileira e indo para o exterior”, disse Rezende. “As empresas se endividaram muito, houve uma queda nos lucros líquidos e nos lucros retidos das empresas desde 2010”.
Segundo o economista, houve uma queda de 49% no retorno das empresas abertas entre 2010 e 2016. “Com isso foi observado um comprometimento dos lucros operacionais, a geração de caixa das empresas não dá para pagar as despesas financeiras”.
Diante disso, a política econômica brasileira foi “desenhada para reduzir somente o custo de capital”. “Isso é só uma parte da equação: a parte mais importante deve ser o lado do retorno do investimento”.
Como reagir diante desse cenário? “Não é só a retomada da confiança que vai resolver”, destacou Rezende. “A crise brasileira não é de base fiscal, mas financeira”.
De acordo com Rezende, o Brasil reagiu à crise do setor privado como se essa fosse uma crise de investimento externo. “Houve uma falha de diagnóstico, como se houvesse um paciente na UTI e alguém fosse lá e desligasse os aparelhos”, explicou. “Foi forte a contração fiscal em 2015, o choque de preços administrados. Com isso, as empresas sentiram o choque de preços e de despesas financeiras”.
Como consequência, 21 de um conjunto de 24 atividades econômicas pesquisadas pelo IBGE apontaram redução da produção em agosto de 2016. “Foi o pior agosto desde 2012, com uma forte contração da demanda e queda no emprego e na renda”.
Diante disso tudo, para Rezende, é preciso pensar numa estratégia de desenvolvimento sustentável baseada na demanda doméstica. “Isso tendo como objetivo atingir o pleno emprego e a estabilidade de preços, a reforma do arcabouço institucional do Banco Central e redução da dependência de capitais externos.