Bens de consumo duráveis serão os mais castigados pelo aumento do IOF
Publicado em:
Portal Fenacon
Estudo da Anefac aponta que, com a alta do tributo, o financiamento de um carro de R$ 25 mil em 12 vezes, com juros de 1,84% ao mês, terá um acréscimo R$ 421,32 no valor total da compra
Pedro Garcia
São Paulo – O aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no crédito dos consumidores deverá ter maior impacto sobre as vendas de mercadorias e serviços mais caros, especialmente os bens de consumo duráveis.
Uma simulação feita pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) aponta que as operações de crédito que envolvem bens de maior valor agregado sofrem mais com a alta da alíquota.
Uma geladeira de R$ 1,5 mil, parcelada em 12 vezes no comércio com juros de 4,85% ao mês, por exemplo, sofrerá uma alta de R$ 2,52 nas prestações e R$ 30,24 no total do financiamento, conforme aponta o estudo. Já um carro de R$ 25 mil, financiado em 12 vezes com juros de 1,84% ao mês, terá um alta de R$ 35,11 nas parcelas e R$ 421,32 no total do crédito.
Segundo Altamiro Borges, assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), além de serem castigados pelo aumento do IOF, os bens duráveis também sofrerão com a alta dos juros em 2015 – a expectativa do mercado é que a taxa básica (Selic) suba 0,5 pontos percentuais na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) e chegue a 12,25% ao ano.
“Estamos com perspectivas bastante desalentadoras para os bens duráveis para este ano. Eles devem sofrer duplamente agora, com a alta do IOF”, afirmou Borges.
Contenção do consumo
Para Miguel Oliveira, diretor executivo de estudos e pesquisas econômicas da Anefac, o aumento do IOF isoladamente terá pouco impacto na contenção do consumo, porém, quando somada a outras variáveis como a alta dos juros, o aumento das tarifas públicas (combustíveis, energia elétrica, transporte) e a inflação, a medida deverá ser um item importante para ajudar a segurar as rédeas da economia.
“O conjunto vai desmotivar o consumidor a assumir dívidas [tomar empréstimos]. Somando todas as variáveis, a perda do poder de compra vai ser maior do que o que ele vai ter em reajuste salarial”, observou o economista.
Na avaliação de Borges, somente a alta do imposto já serve como um freio para o consumo, uma vez provoca alavancagem de outras variáveis, afetando o custo final.
De acordo com ele, os estudos da FecomercioSP apontam para baixa intenção de consumo pelas famílias, alimentada pela incerteza com relação a desempenho da atividade econômica, que pode afeta a renda e o emprego das pessoas.
Crédito
Oliveira avaliou que, além de impactar na demanda por crédito, a elevação do IOF junto às outras variáveis também influenciará na oferta. De acordo com ele, os bancos terão mais rigor nos empréstimos, enquanto o comércio vai tentar absorver as medidas para evitar a queda das vendas, pressionando o crédito.
Dados do Banco Central apontam que o saldo empréstimos com recursos livres – em que os juros são definidos pelos bancos – tiveram uma alta de 4,7% em novembro de 2014, com relação ao mesmo período de 2013. Se descontada a inflação, acumulada em 6,56% naquele mês, o estoque de crédito já registra evolução negativa de 1,86%.
De acordo com Borges, os empresários e lojistas já estão demandando menos crédito e trabalhando com estoques menores.
|