Nova regra contábil protege Petrobras da variação cambial
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Portal Fenacon
Por Cláudia Schüffner | Do Rio
Fonte: Valor Econômico
A decisão da Petrobras de adotar a prática conhecida como "contabilidade de Hedge" nas suas exportações é fruto da necessidade de empresas de países emergentes buscarem recursos em outras moedas, como, por exemplo, a Índia e África do Sul, explicou ao Valor uma fonte qualificada. Não é usada por outras grandes companhias internacionais de petróleo ou porque elas estão sediadas em países com moeda forte (caso das americanas e europeias) ou que são grandes exportadores, como é o caso da russa Gazprom. Esta última é uma grande produtora de gás e a maior companhia de petróleo da Europa. Ocupa ainda a posição de segunda maior do mundo em produção, superada apenas pela Saudi Aramco, da Arábia Saudita.
Ao adotar a nova regra contábil, a Petrobras fica livre da instabilidade que afeta o resultado em função de situações exógenas, como flutuações cambiais sem efeito no caixa e no resultado operacional. É claro, admite a fonte, que a desvalorização do real ainda é prejudicial porque afeta o custo operacional, tendo em vista que a companhia importa serviços, bens e materiais que são pagos em dólares, não em reais. Mas esse é um problema que ficará isolado, frisa.
Pela nova contabilidade, diz a fonte, o resultado operacional ficará mais visível, quando antes podia ser ofuscado pelo câmbio. E isso também é positivo, admite, para o pagamento de dividendos aos acionistas detentores de ações ordinárias (ON), aí incluídos o Tesouro Nacional e o BNDES, protagonistas de operações que motivaram críticas de que o governo está adotando critérios de "contabilidade criativa".
"Foi uma medida técnica que tem leitura política, mas a verdade é que a Petrobras vinha buscando solução para esse problema há bastante tempo", afirma a fonte.
A estatal sempre enfrentou questionamentos de investidores estrangeiros quando apresentava resultado muito afetado pelo câmbio. E, nesses momentos, a resposta da administração era de que o resultado não tinha efeito sobre a dívida, que tem prazo médio de sete anos. A resposta costumava ser que podia não alterar o operacional, mas afetava, e muito, os dividendos. O problema está solucionado com a contabilidade de hedge.
Sobre a crítica dos analistas Paula Kovarsky e Diego Mendes, do Itaú BBA, de que a contabilização sobre exportações futuras não considera o fato de a Petrobras ser atualmente importadora líquida, a fonte observou que a regra do pronunciamento contábil CPC38 se refere a fluxo de exportação e não à exportação líquida. Pelos cálculos do banco, a Petrobras exporta cerca de 20% da produção líquida, equivalente a aproximadamente 400 mil barris por dia de petróleo.
O Itaú BBA assume preço de US$ 90 por barril exportado pela Petrobras (que tem deságio em relação ao brent por ser de um tipo pesado) para calcular receitas de US$ 13 bilhões com exportações de 400 mil barris por dia, que somam US$ 70 bilhões quando trazidas a valor presente ao longo de sete anos. Os analistas admitem que "sem dúvida essas receitas fornecem hedge natural suficiente para a exposição líquida da Petrobras ao dólar que é de R$ 101 bilhões", mas observam que há déficit quando são contabilizadas tanto as importações de derivados quanto as exportações de óleo bruto.
A nova regra contábil será adotada até que a administração da Petrobras decida abandoná-la. As exportações da empresa tendem a aumentar progressivamente à medida que as novas plataformas destinadas ao pré-sal sejam instaladas, aumentando gradativamente a produção até chegar à marca de 4 milhões de barris/dia em 2020.
Até lá, e enquanto as refinarias do Maranhão e Ceará não foram construídas – ainda se desenham formas de parceria em um cenário de preços dos derivados vendidos no Brasil com defasagem em relação ao mercado internacional -, a Petrobras tende a aumentar os volumes de petróleo exportado. Até que haja aumento da capacidade de refino além das adições trazidas pela Rnest (PE) e o Comperj (RJ), que elevarão a capacidade de refino do país para 2,4 milhões de barris/dia a partir em 2015, haverá excedente de petróleo para exportar.