“Mãe de todos os abismos fiscais” preocupa o FMI
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Portal da Classe Contábil
Cinco anos de crise internacional abriram um rombo significativo nas contas públicas de muitos países, especialmente das economias mais avançadas. Os gastos dos governos para salvar os bancos e estimular a Economia ampliaram o Déficit público, que só agora começa a dar sinais de redução, mas em intensidade ainda não suficiente para diminuir a dívida pública, notou o Fundo Monetário Internacional (FMI) no monitor fiscal apresentado na reunião anual realizada neste mês. Os mercados emergentes, incluindo o Brasil, estão em melhor situação.
O Déficit público nominal global atingiu o pico de 7,4% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2009 e já havia recuado para 4,6% no ano passado. A previsão do FMI é que caia para 4,2% neste ano e 3,5% em 2013. Há dúvidas se esse ritmo poderá ser mantido em vista do impacto na atividade econômica. O FMI leva em conta o resultado nominal, que inclui as despesas com pagamento de juros; já o Brasil usa preferencialmente o resultado primário, que exclui essa conta.
Ao apresentar esses dados, o diretor de assuntos fiscais do FMI, Carlo Cottarelli, disse que muitos países terão que enfrentar vários anos de consolidação fiscal porque o ajuste gradual é preferível para evitar danos severos à atividade econômica, mostrando total sintonia com a direção. Nem todos podem se dar a esse luxo, porém, se houver pressão do mercado financeiro.
As duas maiores economias do mundo, Estados Unidos e Japão, estão nessa situação e precisam explicar o mais rápido possível como pretendem equacionar seus déficits sob pena de provocarem turbulência no mercado internacional. Segundo Cottarelli, os Estados Unidos podem despertar a "mãe de todos os abismos fiscais" no mundo se nada fizerem para resolver seu próprio abismo fiscal, como está sendo chamada a conjunção, em janeiro, do fim das isenções tributárias herdadas da gestão de George W. Bush e a entrada em vigor de cortes programados de despesas. Os dois acontecimentos vão ter um impacto equivalente a 4% do PIB. Além disso, o teto de endividamento do governo americano precisa ser removido.
O FMI acredita que os Estados Unidos vão chegar a um compromisso político para tratar dessas questões, e o Déficit fiscal do país, depois de ter atingido o pico de 13,3% em 2009, vai recuar para 7,3% no próximo ano.
Também na lista dos países que exigem cuidados especiais, o Japão teve as contas afetadas pelas despesas relacionadas ao terremoto e tsunami do início de 2011, que levaram seu Déficit fiscal a 10% neste ano. O país também enfrenta um impasse político em relação à aprovação do financiamento do Déficit deste ano. O aumento gradual da taxa do imposto sobre o consumo para 10% foi aprovado pelo Parlamento japonês, e o primeiro aumento será em abril de 2014, para 8%. Isso não será suficiente, porém, para pôr o Déficit recorde japonês em trajetória de baixa.
O Fundo está especialmente preocupado com a Dívida Pública japonesa, que deve atingir o equivalente a 236,6% do PIB neste ano, o dobro dos 110,7% dos Estados Unidos e maior do que a do mais encrencado país da zona do euro, a Grécia, que tem 170,7%. A situação não é crítica, porém, porque os títulos japoneses pagam juros próximos de zero e a Poupança doméstica do país é gigante. Mas Cottarelli acha que deve ser reduzida a médio prazo.
Nos países mais problemáticos da zona do euro, os índices de Déficit fiscal e Dívida Pública podem até ser menores do que os dos Estados Unidos e Japão, mas eles continuam enfrentando dificuldades de financiamento, que se traduzem na forma de juros elevadíssimos. Na Espanha, espera-se um ajuste de cerca de 4% do PIB neste ano e em 2013 com a combinação de aumento de taxas indiretas e corte de salários e benefícios dos desempregados. No entanto, há o Risco crescente de não atingir a meta de um Déficit de 6,3% do PIB neste ano. A previsão do FMI é de que o Déficit será de 7%. Na Grécia, a Recessão maior do que a esperada e falhas na implementação das medidas fiscais vão complicar a obtenção das ambiciosas metas de redução do déficit, que deve ficar em 7,5% neste ano, depois de ter atingido 9,1% em 2011.
Na Irlanda, a consolidação fiscal continua em linha com o acertado com o FMI. O Déficit esperado para este ano é de 8,3% do PIB, um grande avanço frente aos 30,9% de 2010.
Outra fonte de preocupação do FMI é que a redução do Déficit fiscal não tem levado ao declínio na relação Dívida Pública e PIB na maioria dos países, apesar da queda dos juros. A previsão do FMI é que a relação dívida e PIB global vai subir de 79,9% em 2011 para 81,3% neste ano.
Fonte: Valor Econômico